quarta-feira, 29 de abril de 2015

Confissão: por que eu?

ou um texto sobre compartilhar textos.

por Leco Silva 

Desde que comecei a usar internet eu esbarrei em momentos como este de agora, precisamente. Momentos onde me percebo pensando “por que não?” sobre a ideia de compartilhar algo meu.
Comecei a pensar nisso e executar de alguma forma lá pelo Fotolog e já nessa onda compartilhava uns textos meus, especialmente poesias, coisa que cometi com frequência a partir de 2004 e fui espalhando por blogs afins até um momento de autopreservação (aka ninguém me entende) me acometer e eu deletar tudo.
Um desses períodos de compartilhamento até que durou, rendeu um blog que ainda pode ser encontrado… mas que foi advertidamente abandonado. A bem da verdade, eu participava de um evento de poesia em uma livraria onde trabalhei no Rio de Janeiro até o momento que fiquei extremamente desanimado com aquilo tudo — deixei de aproveitar o microfone aberto ao vivo, por não ver razão de continuar passando aquela vergonha sendo tímido como sou e, colateralmente, deixei igualmente o espaço virtual. OK, sendo sincero? Eu não via razão de declamar o que jamais seria publicado.
Meu problema principal: diante de tanta gente no mundo com boas histórias pra contar, você leria a minha por qual razão?
Junto dessa questão, sempre haviam outras, uma bem importante sendo o que eu espero desse compartilhamento de mim mesmo com o mundo (sendo que este mundo, obviamente, não é todo mundo e, na maioria dos momentos , ninguém):
Atenção? Uma verificação de uma “virtuose” minha na escrita que precisa de reconhecimento alheio? Realmente achar que o meu papo vale à pena ser ouvido? Desanuviar a cabeça?
Eu realmente não sei se consigo responder com certeza qualquer dessas coisas.
Fato é que a internet nos traz uma gama sem-fim de tudo que a gente consome aspira ser ter conversa sobre deseja:
Por exemplo,
Música.
Eu não passo um dia da minha vida sem escutar música e não tem nenhum álbum que eu (sem conhecimento técnico algum, vale ressaltar) tenha escutado com atenção e não tenha resenhado mentalmente que já não tenha um sem-fim de resenhas de fato ao dispor dos aficionados. E eu mesmo sempre acabo lendo umas aqui e acolá, todo dia… mesmo assim, faço as minhas próprias resenhas silenciosas desde a música nova do Mumford & Sons a um comparativo disco a disco da discografia do Interpol… chegando então a um veredito que, resumidamente,

importa

   pra   

 quem?

No final das contas, eu acho que a pergunta “por que eu?” vale pra me por o pé no chão de que não tem muita gente interessada no que eu acho sobre algo a não ser que:

a. você já me conheça
ou
z. você tenha tempo, alguém “a” te trouxe aqui ou simplesmente o bom e velho acidente

Se a, outra ramificação
a.1 Talvez você queira saber como eu escrevo;
a.2 Talvez você já goste de como eu escrevo;
a.3 Talvez você só queira saber se pensa parecido comigo;
a.4 Talvez você seja apenas curioso.

Porque se z, eu sou — pesando na balança o teu tempo sendo gasto aqui — precisamente nada. Nada se ninguém clica no Recommend, nada se alguém não compartilha isso aqui, eu não sou ninguém pra você. Esse texto só vai habitar o limbo natural entre aqueles que jamais se conhecerão nessa vida. Mas se você chegou aqui, de alguma forma, e até aqui no texto, fica um α — um quase a.
E chega até o final se depois de a.1 veio a.2 e espera por um próximo texto seja lá sobre o que se a.3 ou se precisamente oposto a.
De qualquer forma,
Eu devo apenas escrever qualquer divagação pra quem quer que seja invariavelmente a.4. E isso naturalmente é por mim, também. Fico pensando se vale rabiscar uma folha em branco e ser mais uma distração nesse mundo de distrações em cada canto para alguém além de mim.
Mas sei sim que entre a & z tem mais pontes e conexões do que essa confusão travestida de letrinhas numa tela podem descrever. E dentro disso, na estante das biografias em andamento
— você decide qual vai ler.
Se chegamos juntos aqui, olha, primeiramente obrigado ou parabéns — o que couber melhor pra você.
Eu preciso fechar isso aqui de uma forma não tão expressadamente egóica. Fazendo algum sentido (tentando ao menos fazer com que vá) além.
Um de meus tios tem a teoria de que o ser humano só se humaniza enquanto se volta para o outro — trazendo algo a mais para um outro, a partir de algo individualmente adquirido. Seja isso conhecimento puro, técnicas de produção etc (filósofo comunista detectado).
Eu posso dizer que em tempos de solidão coletivamente anunciada em redes sociais múltiplas — na urgência generalizada do ser algo categorizável como feliz, estável, bem-sucedido e muitas outras tags—movimentar de alguma forma um outro (fadado assim como eu a observar impotente o abismo inevitável entre si e o resto do mundo) me humaniza um pouco mais,
Então…

espero minimamente ter apresentado aqui uma boa música pr’ocê.

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