João do Rio, para quem não
sabe, foi um dos maiores escritores de sua época [1881-1921] e
inexplicavelmente esquecido atualmente. Jornalista, contista, teatrólogo,
tradutor [especialmente de Oscar Wilde] e, principalmente, cronista. Convém
lembrar que ele fazia parte de várias minorias excluídas: negro, pobre,
homossexual, obeso. E que isso milagrosamente não impediu que fizesse muito
sucesso, enquanto estava vivo.
Após falecer, o mercado
editorial o esqueceu, não fizeram publicações póstumas e sua obra foi
praticamente extinta, até que, na década de 80, encontraram, na antiga casa de
sua mãe, sua obra escondida. Recuperada e documentada, voltou ao meio
editorial, embora sem a força de antes.
Esse começo foi uma breve
introdução sobre esse escritor, que tinha muita consciência do poder e do
encanto da literatura e que contribuiu muito, com o seu conhecimento jornalístico
e documental, para o amadurecimento da literatura brasileira.
Uma de suas obras menos
conhecidas se chama ‘O Momento Literário’, que é uma coletânea de entrevistas
com os maiores escritores de sua época: Olavo Bilac, Inglês de Souza, Clóvis
Beviláqua, Sílvio Romero, Coelho Neto, João Luso, entre vários outros.
Foram as mesmas 5 perguntas
para todos os entrevistados:
1.
Para sua formação literária, quais os autores que mais contribuíram?
2.
Das suas obras, qual a que prefere? Especificando mais ainda: quais, dentre os
seus trabalhos, as cenas ou capítulos, quais os contos, quais as poesias que
prefere?
3.
Lembrando separadamente a prosa e a poesia contemporânea, parece-lhe que no
momento atual, no Brasil, atravessamos um período estacionário? Há novas
escolas (romance social, poesia de ação etc.) ou há a luta entre antigas e
modernas? Neste último caso, quais são elas? Quais os escritores contemporâneos
que as representam? Quais a que julga destinada a predominar?
4.
O desenvolvimento dos centros-literários dos Estados tenderá a criar
literaturas à parte?
5.
O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte
literária?
Já as respostas, foram as
mais variadas – e valiosas – possíveis! Eis alguns trechos:
“Ama
a tua arte sobre todas as coisas e tem a coragem que eu não tive, de morrer de
fome para não prostituir o teu talento.” Olavo Bilac
“Tenho
a respeito da palavra uma teoria: a palavra falada é a palavra viva, livre,
solta de todas as cadeias, capaz de por si só definir, pintar, colorir; a
palavra escrita é a palavra agrilhoada, morta, sem a expressão imediata. A primeira
tem a intenção que é tudo e a inflexão que é a realidade de intenção. Toma, por
exemplo, a palavra ‘Deus’. Deus tem uma cor no juramento solene, outra no auge
do pavor, outra na ironia, tem todas as cambiantes do sentimento, graças à
inflexão e, às vezes, apesar de sagrada, falta-lhe moralidade, como quanto uma
rapariga, comida de beijos pelo amante, murmura trêmula – Meu Deus!” Coelho
Neto
“A
este quesito só podem responder bem os que se entregam a crítica literária,
cousa de que Deus me defenda.” Inglês de Souza
Só para citar algumas das
belezuras ditas no livro.
Cabe aqui um orgulhinho
cearense, ao saber que muitos deles citam elogiosamente a Padaria Espiritual.
Então, na intenção de
levantar discussões relevantes para a literatura, e não deixar essa obra se
perder, o Vem-Vértebras tomará a liberdade de continuar esse legado em uma série de postagens sob o título 'O Momento Literário HJ', entrevistando
escritores, com perguntas adaptadas para o nosso mundo atual:
1.
Quais os autores que mais contribuíram para sua formação literária?
2.
Das suas obras, qual a que prefere? E desta obra, qual conto, poema, trecho ou
capítulo prefere?
3.
Como você vê o cenário literário no Brasil? Há novas escolas? Quais escritores
representam a atual literatura?
4.
Há literaturas regionais ou uma única literatura brasileira?
5.
A internet, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?
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