sábado, 19 de março de 2016

Madrid é uma cidade encantadora

Coluna: Sobre Vênus


Se me perguntam o que mais caracteriza essa cidade, eu diria: fontes, bares, idosos, bebês e cachorros. Parques, rotatórias, prédios de tijolinho. Hoje, nesse começo de primavera, diria também cerejeiras, que se destacam floridas em meio às outras árvores ainda invernais. 

Madrid cheira à fuligem e perfume doce.

É linda e castigante em seus altos e baixos, que nos faz perder o fôlego e também admirar quão bonita é essa cidade também vista de cima.

Uma vez um espanhol não-madrileño brincou me falando que, em Madrid, quem vê uma fila já entra no final dela, sem nem saber o porquê. Há filas para esperar o ônibus no ponto, fila para caixas eletrônicos (que ficam no meio da rua).

Bicicletas! Em Madrid há poucas ciclofaixas porque as bicicletas têm seu espaço no trânsito, entre carros, ônibus e motos. Há lugar para bicicleta no metrô. Há bicicleta para alugar. Há milhares de pessoas se locomovendo de bicicleta em Madrid, e, apesar das buzinadas, nunca vi acidente ou violência contra ciclistas.

Há também o tráfego de carrinhos de bebês e carrinhos de compras. Espanha, até pouco tempo atrás, estava com um problema populacional, em que a grande maioria da população era idosa. Com incentivos, hoje em dia imagino que a quantidade de bebês seja igual à de velhinhos (porque a quantidade de crianças aumentou, mas a de idosos não diminuiu). E todos os pequenos são levados em seus carrinhos, alguns modernos, outros estilosos, vintages ou tradicionais, na época fria, cobertas por capinhas de plástico transparente. Carrinhos de bebê e carrinhos de compras têm lugar reservado e assinalado nos ônibus. É também muito constante o fluxo de idosos e seus carrinhos de compras e seu caminhar lento e maravilhoso em Madrid.

Os bares e restaurantes, sempre cheios, e suas terrazas também protegidas do vento por plástico transparente, os fogareiros entre as mesas, o chão sujo, cheio de lixo que demonstra a virtude do lugar.

As puertas, como arcos do triunfo, tão lindas e soltas pela cidade.

E as fontes. Ah, as fontes. Tão lindas, muitas vezes inesperadas, com suas esculturas em pedra, em ferro, sem nada além da dança das águas, limpas ou coloridas… Há fontes por toda a cidade, em pontos turísticos ou em rotatórias de bairro. Madrid é a cidade das fontes.

Também é a cidade dos cachorros. As pessoas saem com cachorros mais do que com seus filhos. Há cachorros no metrô, em bares, soltos brincando nos parques com suas coleirinhas com luz colorida e também sofrem no frio quando ficam presos por suas coleiras em postes, na rua, ansiosos para que finalmente seus donos saiam do supermercado.

Por fim, se me perguntarem o que mais caracteriza essa cidade, falaria também do Paseo del Prado e suas largas vias, seus museus e fontes e árvores imensas; da Gran Vía, uma espécie de Broadway madrileña, com seus prédios imponentes, lojas, hotéis, teatros, bares, muitas e muitas pessoas e carros; e, claro, do Palácio de Cibeles, a prefeitura da cidade, linda, grande, luxuosa, que hoje abriga um governo atencioso à sua população (pelo menos, se comparado com a experiência fortalezense).

A imagem do Palácio de Cibeles, um verdadeiro palácio, com um cartaz falando “Bem-vindos, refugiados”, foi-me muito marcante no processo de chegada à Madrid.

Uma coisa que me também encanta em Madrid é que ela nos surpreende sempre. Adoro sair por aí, andando ou de ônibus, porque sei que no meio do nada, ou do comum, algo vai surpreender, seja uma puerta desconhecida no meio do caminho, um mercado super legal numa rua pequena, uma visão ao fim da tarde banhada pelo sol alaranjado, uma rua tomada por cerejeiras floridas, prédios antigos no meio de casas comuns, varandas floridas e verdes em meio ao cinza ou marrom da paisagem. 

Madrid é uma cidade encantadora.

Um comentário:

CA Ribeiro Neto disse...

Teu texto é impressionante! Percepções incríveis.