terça-feira, 7 de março de 2017

O fermento e o sabor do mundo

por CA Ribeiro Neto - Twitter


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De tempos em tempos, a mudança se faz necessária em nossas vidas. Porém, acredito que alguns procuram incessantemente mudar. Seu Jasiel era um destes que nem o avanço da idade o fez parar de buscar o aprender.

Quando jovem, na década de 70, almejando ser diferente, nada de medicina, direito ou engenharia, foi para a teologia. Pelas amizades que fez, conseguiu, inclusive, uma temporada de estudos na Itália vinícola, aprendendo a arte de produzir licores.

Depois de muitos anos de estudos, fez-se padre. Insistiu por missão pela África, negado. Solicitou ser enviado em catequese para a Amazônia – negado. Pediu para ser enviado a uma comunidade da periferia de São Paulo: negado. Mandaram-no para Fortaleza, bairro residencial.

Foi padre por 27 anos, sendo mudado de paróquia em paróquia, porém, praticamente o mesmo desafio. A ética clerical o impedia de solicitar uma mudança mais drástica em sua vida, poderia soar como a recusa de uma missão destinada pela Igreja. Decidiu, então, pelo que ninguém esperava, pendurou a batina.

Quando se viu não mais padre, montou um pequeno alambique de licores e aguardentes, distribuindo para todo o Estado. Trabalhava muito de maio a fevereiro, sem nenhuma ajuda na produção e com parceria logística para estender sua atuação pelo Ceará. Nestes 10 meses, dividia a rotina entre trabalho e igreja, participando de quantas pastorais pudesse.

Já em março, passado a demanda do carnaval, viajava durante 2 meses sempre para um canto diferente. Jerusalém, inúmeras vezes. China, também, mas fugia de Pequim. Uruguai, Guatemala, Canadá, Finlândia, Sul da Suíça, Turquia e, o único que repetia de 4 em 4 anos: o Nordeste Brasileiro.

Já com 20 anos de alambique, percebeu que, enfim, teria que ceder e arranjar um ajudante. Colocou uma plaquinha para anunciar a vaga e apareceram: Túlio, um garoto de 16 anos bem esperto e com muito potencial; Célia, uma senhora que sempre foi dona de casa e agora, com divórcio recente, precisa procurar um emprego para sobreviver; e Jonas, um ex-presidiário, que não recebeu qualquer assistência da comunidade e acredita que um ex-padre terá a sensibilidade de lhe dar uma oportunidade.

Seu Jasiel não sabia quem nem como escolher, sua mente empreendedora quer contratar apenas um, seu coração não quer decepcionar os outros dois. Estrategicamente, ficou com os três. Treinou Jonas para ser seu comercial, lidar com os distribuidores e prospectar novos clientes. Célia, com todo seu know-how, sabe melhor do que ele como escolher as frutas ideais para a produção, virou o setor de Compras. E Túlio sim, tornou-se o auxiliar, aprendendo e ajudando em tudo.

Os ótimos resultados que se seguiram só vieram a comprovar uma coisa: a caridade é o fermento e o sabor para o desenvolvimento do mundo.

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