sexta-feira, 7 de abril de 2017

A Dança de Jessé

por CA Ribeiro Neto - Twitter


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Com bandidos atacando cidades do interior, sobretudo caixas eletrônicos, percebi algumas semelhanças na ação destes com o dos cangaceiros. E como muitos os veem como heróis, lembrei de uma história que uma vez um tio me contou.

Na cidade de Guanacés, finalzinho a década de 20, todo mundo só falando dessa I Guerra Mundial, e estando tão perto do litoral, ninguém imaginava um grupo que cangaceiros subiria tanto. Jessé e seu bando, fugindo da patrulha de volantes e da concorrência, estavam próximos da cidade, depois de já ter passado por Pacajus.

Perceberam que a cidade não foi avisada da visita deles, esperaram anoitecer para invadir. As ruas desertas, algumas poucas venezianas abertas e o silêncio quebrado por um xote truando depois da igreja. Como que para contrariar Deus, fizeram o clube de forró parede de fundo com parede de fundo com a paróquia.

Jessé comandou seus homens e invadiram a festa. A música parou na hora, correria para todos os lados. Os cangaceiros bloquearam a porta e não deixaram ninguém sair. O chefe foi ao meio do salão, disse pra banda continuar a tocar e que queria ver todo mundo dançando. Sem sorriso ou comentários, os menos encabulados e os ditos mais corajosos da cidade puxaram suas parceiras e começaram só no miudinho.

Depois de muitas doses de cana, Jessé se empolgou, a criatividade expandiu e ele desejou ver a putaria comendo solta. Foi até o palco, fez a banda parar e gritou:

- Bó todo mundo pro salão. Não quero ver ninguém daqui sentado. Achem um par para dançar.

Ele aguardou todos se reunirem na pista e concluiu sua ordem:

- Agora, quero vê todo mundo nu! Tirem a roupa que ‘cês vão dançar pelados!

Foi uma barulheira só. Os cangaceiros na gargalhada, as mulheres gritando, tirando a roupa e tentando esconder suas partes, os homens, calados, de cabeças baixas, mas tentando, de rabo de olho, ver o que elas escondiam.

O xote continuou com muita apreensão dos dançarinos e muita gargalhada do bando. Depois de 20 minutos, um destes sussurrou no ouvido do Jessé, que mandou parar a música de novo e gritou:

- Vamos mudar um pouco esse gingado. Todos vocês vão pegar o dedo do cotoco da mão esquerda e enfiar na boca. E o dedo do cotoco da mão direita e enfiar no buraco de trás! 

A gritaria foi pesada! Alguns se opuseram, mas os homens de Jessé sacaram e apontaram suas armas. Aí não teve jeito, todo mundo ficou na posição. Não se sabe quem pulava mais: os dançarinos ou as espingardas nas mãos dos bandidos, que não paravam de rir e soluçar. Já tinha um sem ar de tanto se estrebuchar.

Entre uma música e outra, alguém do salão soltou um “Arre eita...”. Todo mundo escutou. Todo mundo parou. Jessé saltou da cadeira e decidiu:

- Ah é???? Tá ruim?? Já que tá ruim, vamos fazer assim: troquem os dedos de lugar!!

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