segunda-feira, 29 de junho de 2015

Marvels: o poder de um bom balonamento

Em quadrinhos, balões falam e guiam




Balões são elementos clássicos da gramática dos quadrinhos. Poucas (e, quando feitas de forma competente, notáveis) são as HQs que exploram a narrativa gráfica ao ponto de não usar uma palavra sequer. Por isso, não se pode dizer que balões são onipresentes nos quadrinhos: mas são importantíssimos para diversas histórias.

Muito mais do que expressar o discurso direto, no entanto, os balões servem poderosamente ao interesse dos autores de quadrinhos. Além dos personagens, dos cenários, enfim, da diagramação de
uma página, os balões servem para pôr uma rédea no sentido de leitura. Quando mal feita, a disponibilização dos balões torna tudo mais complicado, e a narrativa torna-se confusa. Quando bem dispostos, os balões são uma verdadeiro caminho no qual os olhos (que afinal são livre e podem olhar para qualquer canto de uma página) devem trilhar.

Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross, é um desses exemplos de boa (melhor dizer excelente) disponibilização dos quadros em uma página. Se pensarmos a página sem balões, a diagramação inicialmente pode parecer confusa, com dois quadros
retangulares maiores e dois à direita, verticais, sobrepondo-se uns aos outros. Apesar disso, é impossível fugir do rumo da leitura. O caminho que balões, recordatórios e onomatopeia desenham na página não deixa escapatória: somos naturalmente levados do começo ao fim da cena por causa dos quadros. O sentido de leitura ocidental, da esquerda para a direita, vai e volta, formando uma espécie de “S invertido”. Impecável!

Vale lembrar que um bom balonamento é um trabalho conjunto: da noção do roteirista em dosar quantas palavras estarão dispostas pela página, da noção do ilustrador em deixar espaços em sua arte para o encaixe dos balões e da noção do letreirista para pôr tudo em prática e moldar o caminho para o leitor. É um revezamento criativo.

Pode parecer detalhe, e é. Mas é nos detalhes dos quadrinhos que acontecem as maravilhas dessa linguagem.

PS.: A edição de Marvels que li é a lançada recentemente no Brasil pela Salvat. Fica aqui os parabéns para o ótimo trabalho da editora e de Donizeti Amorim, letrista da edição.

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