por Danilo Maia
Twitter: @DaniloTakakara
Coluna: Faça [P]arte de tudo
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Acordei, levantei da cama e, quando me olhei
no espelho, um susto! Eu não tinha mais barba, nem tatuagens e pelos por todo o
meu corpo. Aliás, o que eu via ali não era nem o meu corpo! Aquele rosto que
olhava de volta para mim tinha para oferecer apenas um belo sorriso sensual,
cabelos loiro-brancos, um olhar profundo e triste, e uma pele clara e lisa com
uma cicatriz no abdômen [que parecia uma tentativa de pedido de desculpas e
precisava estar ali para justificar toda a beleza de sua dona!].
Eu era ela, a Diva. Era Marilyn. Sim, Marilyn
Monroe.
Estava nua. “Vestindo” apenas duas
gotinhas de Chanel nº5.
Sentindo aquele delicioso cheiro em mim e
toda volúpia que transbordava de cada gesto meu, percebi-me linda como nunca! Corri
ao guarda-roupa e lá estava ele, o vestido branco. Coloquei-o e fui para a rua.
Queria ser desejada, queria sentir o poder de ter todos os homens aos meus pés.
Corria pelas calçadas, como uma
criança desvairada. Esperando a qualquer momento uma lufada e que meu vestido esvoaçasse
para que eu fingisse desespero em cobrir-me, como uma moça pudica. E sorrisse
maliciosamente para todos que olhassem, como uma mulher fatal.
Para onde quer que eu fosse, pensava que deveria
chegar atrasada. Tal qual quando cheguei naquela festa. E então, diante de
todos, usando outro vestido tão lindo e eterno quanto o primeiro – minha falsa
pele –, cantei “Happy Birthday, Mr. President” para ele, o meu amor. Nem sei se
é o maior de todos como as pessoas adoram falar. Mas, sem dúvida, era alguém que
eu amava, sim. Digo isso, porque estou no corpo dela, porque sou ela. Sei que,
provavelmente, seria o que ela diria também.
No entanto, ele não foi o único.
Hoje, por exemplo, procurei e dei Amor.
Acredito que fui feita para amar. Amar a todos e todas. E, Amor, é o que eu sei
dar. Caí nos braços de reis e plebeus!
E nos braços de tantos homens, encontrei
adoradores, loucos e apaixonados, que também são loucos. Porém, todos gozavam,
mas não gozavam comigo. Gozavam apenas para eles mesmos. Não olhavam para mim.
Olhavam através de mim. Nenhum deles percebeu o meu gemido. Um gemido que
anseia proteção. Ou o meu olhar vazio e desesperado que procura pelo amor do
pai. Um amor que não chega. Que não devolve o amor que eu dou.
Mas, sem pestanejar, eu devorei a
todos. Suas almas, agora me pertencem. Suguei suas Vidas e se tornaram apenas
zumbis que repetem meu nome como um mantra.
Senti-me uma deusa. Isso me dá a
certeza de que sou imortal. De que o Mundo é todo meu. Basta esticar a mão para
pegá-lo.
Mas eu mereço esse Mundo? E ele, me merece?
Volto para casa.
À noite, já na cama, sozinha, pensando
em tudo o que me aconteceu, após engolir todos os comprimidos e prestes a
adormecer, tive uma visão. Consegui ver quem eu realmente sou: me vi Norma
Jeane.
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