quarta-feira, 29 de julho de 2015

Uma breve consideração: o movimento cíclico de Watchmen





Parte das obras de Alan Moore tem uma narrativa cíclica. O autor tem uma certa tendência a escrever fins que remetem ao começo de suas histórias. Ao falar isso, me lembro de Piada Mortal, da dupla Moore e Brian Bolland. No entanto, o foco dessa postagem é em dois momentos da HQ mais celebrada do autor britânico: Watchmen. Caso você não tenha lido essa belezura, é provável que tenha spoilers mais à frente, mas nada que vá doer tanto.




Os três primeiros e os três últimos quadros de A Piada Mortal, da dupla Moore e Bolland. Mais uma obra cíclica.



Vencedor dos prêmios Eisner e Kirby, específicos da indústria dos quadrinhos, e do Nebula, troféu da indústria literária de ficção científica e fantasia (bom lembrar que essa foi a única HQ da História a vencer tal prêmio), Watchmen quebrou paradigmas. Sou um tanto quanto crítico a prêmios literários dados a quadrinhos, acho muito massa, mas ainda creio que fica na cabeça do público que, se uma HQ ganhou um prêmio de Literatura, ela foi "elevada" a outro nível. Luto para mostrar ao mundo que quadrinhos e literatura são linguagens diferentes com o MESMO nível de importância, mas essa discussão fica para depois.
Longe de mim, nessa breve postagem, mostrar todos os momentos cíclicos da história dos Minutemen. Posteriormente, com mais tempo e mais foco, talvez possa desenvolver uma análise mais complexa. No entanto, venho aqui demonstrar somente duas evidências desse movimento narrativo que Moore dá a parte de suas HQs.
Uma delas se mostra logo na primeira parte da série. A última página da primeira edição traz um "movimento de câmera" similar ao mostrado na primeira página, partindo, inclusive, do mesmo objeto em momentos diferentes da história. A movimentação cíclica não fica somente no objeto e no zoom out, fica também no assunto da discussão dos personagens. Enquanto nas primeiras páginas dois policiais conversam sobre a morte de Edward Blake, na última, Daniel Dreiberg (o Coruja) e Laurie Juspeczyk (a Espectral) citam o mesmo assunto: a morte do Comediante.


O plano detalhe se desenvolve em um plano geral, partindo do mesmo elemento, tanto na primeira quanto na última página da edição.

Além do primeiro número da série, a narrativa cíclica de Alan Moore também se fecha ao final da história como um todo. Se atentarmos ao primeiro e ao último quadro da história, iremos ver exatamente os mesmos elementos, novamente, não somente visuais, mas também semânticos.

De um lado, o smile. Do outro, o smile. De um lado, o diário de Rorschach. Do outro, o diário de Rorschach.

Talvez, Watchmen seja na verdade um grande relato presente no Diário de Rorschach. Talvez não. O fim e o início se encaram. Esse é só mais um dos inúmeros aspectos que tornam Watchmen uma obra única, densa e maravilhosa para quem curte não somente quadrinhos, mas histórias excelentes. Provavelmente, voltarei em breve para falar sobre essa história.

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