domingo, 11 de outubro de 2015

Ao parceiro Dimas,

por Alex Costa - Facebook
coluna: Em cada canto um conto



Dimas,

De fato, meu parceiro, o mundo entrou em uma desacreditação terrível. Há um mal-estar terrível nas relações humanas e entre nós já não há uma busca - ainda que mínima - por entender o outro. Há um livro que permanece empoeirado, fechado ou aberto no capítulo 91. Somente agora percebo que não há mais remissão para o teu caso, tu foste condenado quando nem bem sabia, foste pregado em cruz ainda no berço.

Realmente não interessa a eles nenhuma parte do teu passado, mais confortável é o cruzar de braços, o lançar de pedras, o silêncio de uma voz que errou. As pedras. Lançam-te quase acertando nesta luz que está ao teu lado, que tantas pedradas evitou em vias. Tua mãe negra morta, pegue em adultério para te nutrir; tu órfão de pai vivo, moribundo dos vícios; teu perambular faminto nas feiras, manjar de frutas podres e o resto dos cães. Nada disso importa, por nada disso eles se interessam. Todos vestem a negra indumentária do julgamento.

Eles carregam em mãos um livro que dizem conhecer, dizem seguir um cara que tu bem conheces, o qual te afirmo, Dimas, nunca te decepcionará. Eles muito mal interpretam o livro, meu parceiro, este é o grande problema. E mesmo ele tendo dito com palavras e demonstrado com ações, ainda tão mal o interpretam. Se não fosse isso, nem tu nem ele, nem milhões de outros estariam pregados em cruzes nem amarrados em postes. Tu nem sabes, Dimas, mas haverá um tempo em que tu voltarás multifacetado, voltarás mulher, mendigo, prostituta, transexual, tu voltarás bruxa e te queimarão! “Atire a primeira pedra aquele que não carrega pecados”. A multidão abafa as vozes de quem aconselha. Tampam os ouvidos com o Livro fechado.

Tu fazes parte de um plano maior, Dimas. Tu foste criado para mostrar o amor imenso que Ele tem pelos mal compreendidos, pelos marginalizados. Ainda pouco ouviste dizer que “eles não sabem o que fazem”, pois bem acreditas que essas palavras cruzarão a eternidade e se aplicarão ao contemporâneo tão quanto este momento em que agora sofres nesta cruz. Tu não estás sozinho nesta cruz, meu parceiro, tu carregas a voz de todo um povo. Quando vieres negro séculos à frente, te amarrarão em uma estaca e te açoitarão por não teres alma, tu carrega metade do mundo no teu nome.

“Ama o teu próximo como a ti mesmo” foram as palavras liberadas para os povos, que entenderam tudo errado e hoje encheram seus corações de ódio e afirmam que o melhor bandido é aquele que está morto – para eles não há perdão, Dimas. Tuas dores já chegam ao final, meu parceiro, e tuas lágrimas, tu nem sabes, serão colhidas.

Avexa-te, meu parceiro! Para ti ainda há salvação, não te conforma em estar tão perto e permanecer tão longe! Eles te julgaram e crucificaram, mas “aos 45 do segundo, arrependido, salvo e perdoado” encontrarás tua remissão e entrarás de mãos dadas com Ele pelas ruas reluzentes, ouro e cristais estarão debaixo dos teus pés e sobre tua cabeça uma coroa forjada de forma simples, mas colocada sobre teus cabelos pelas mesmas mãos que fizeram o Universo. Não desperdiça um minuto sequer, chama por quem ainda pode te socorrer, grita e pede perdão por quem te pregou em paus, pois eles, coitados, estão longe de saber o que fazem – embora carreguem a verdade nas mãos e a preguem todos os domingos.

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