quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

... and the stars look very different today








Vocês, por favor, me deem licença, mas diante do ocorrido nesta semana, eu não poderia escrever sobre outra coisa que não o músico maravilhoso, o gênio camaleônico, o artista inigualável, o colorido, o iluminado, o incrível, o brilhante, o intergaláctico, David Sensacional Bowie!



Aqui no nosso cantinho da distopia, eu tenho buscado abranger a maior diversidade possível de estilos, formas, ideias e veículos, para celebrar a riqueza e a variedade da arte distópica. E, em se falando de David Bowie, falar de diversidade faz parte do pacote!

Uma das muitas facetas, ou melhor, uma das muitas fases que este herói metamorfósico viveu foi quando ele lançou um disco inteirinho dedicado à obra “Mil Novecentos E Oitenta E Quatro”, clássico da literatura distópica, criado pelo muito mais cinzento mas igualmente genial George Orwell!


Como eu faço questão de relembrar sempre que aparece uma brechinha por aqui, 1984, a obra-prima distópica de George Orwell e um dos maiores (se não o maior) clássico literário do gênero, é o meu livro preferido da vida inteira! Atualmente, estou relendo essa pérola pelo que já deve ser a sétima ou oitava vez, e eu não me canso de me maravilhar com o brilhantismo desse livro! Para quem não leu, eu recomendo veementemente uma passadinha urgente na livraria mais próxima! Além disso, muito cuidado aí embaixo, porque inevitavelmente surgirão uns  SPOILERS DO LIVRO  de leve pelo meio do caminho!


 O álbum “Diamond Dogs” foi lançado em 1974, num momento em que Bowie já estava deixando para trás a sua fase glam, mas que ainda carregava um ou outro resquício dela. Apesar de ser um disco com uma pegada bem menos “serelepe” e “purpurinada” do que os seus trabalhos anteriores, de vez em quando ele ainda deixa escapulir uma coisinha ou outra. Por exemplo, a faixa que leva o nome do livro que a inspirou, “1984”, tem uma levada de soul, um swingzinho animado de funk, uma referência forte de disco e de black music e dá vontade de sair remexendo o esqueleto!


Mas, apesar de ser uma musiquinha deliciosa, animada e até meio rebolativa, é um daqueles exemplos em que a vibe da música e a mensagem da letra não se alinham tanto assim. Se a gente parar pra analisar, a letra da música 1984 traz um alerta semelhante ao do livro 1984, ao falar de censura, controle da informação, manipulação da mídia, restrição do pensamento, cerceamento da liberdade de expressão e da necessidade das pessoas se ligarem nisso, tomarem consciência e agir enquanto é possível, para evitar que a realidade distópica prevista para 1984 venha a se concretizar.




A letra de “1984” retrata um pouquinho da realidade apresentada pelo livro, porque é inspirada em uma das partes mais pesadas e mais importantes da narrativa, os discursos de O’Brien para Winston Smith após a sua prisão e a sua tortura, nos quais ele explica a dinâmica da sociedade e do Partido, de uma forma ao mesmo tempo chocante e didática.

Seguindo essa dinâmica de referenciar partes do livro nas músicas, a faixa “Big Brother” também é maravilhosa e traz o sentido do finzinho do livro, mostrando como a “lavagem cerebral” feita no personagem principal da história é bem sucedida e o coloca como um elemento subserviente e adorador do Big Brother, se encaixando certinho no que se espera num com cidadão dessa sociedade totalitarista retratada no livro.



O álbum “Diamond Dogs” foi o desdobramento de um projeto interessantíssimo e bastante audacioso que só poderia ter saído daquela cabecinha ruiva maravilhosa! David Bowie queria fazer um espetáculo musical de teatro inspirado no livro de George Orwell, que era um dos seus livros preferidos!  Para isso, ele começou a construir a estrutura do musical e a compor algumas das canções, correspondentes a certas partes da história do livro. Mas como a viúva de George Orwell não topou ceder os direitos para este projeto, ele nunca foi realizado e Bowie resolveu pegar as músicas já criadas, acrescentar algumas faixas novas e lançar um disco. E foi assim que a gente ganhou de presente essa maravilha musical que, além da dançante “1984”, da urbana e meio sombria faixa-título “Diamond Dogs” e da bel e triste “Big Brother”, tem também a maravilhosa e meio revolucionária “Rebel Rebel”, que eu adoro, é uma das minhas preferidas de Bowie e, segundo eu li em algum lugar há algum tempo, foi a música dele da qual se gravaram mais covers!



Talvez por ter sido pensado com um conceito teatral, criado para contar uma história; talvez por ser uma ruptura com a estética musical e visual da sua persona anterior Ziggy Stardust; talvez por ser o resultado de um projeto pensado para outra linguagem que teve de ser adaptado; talvez por ser a obra de um gênio inspirada na obra de um outro gênio; talvez por ter bebido na fonte do meu livro preferido; ou talvez por me ter sido apresentado, indicado, recomendado e linkado no Facebook por uma amiga querida, “Diamond Dogs” é uma das minhas coisas preferidas já feitas por David Bowie e eu não podia perder a chance de prestar essa pequenininha mas apaixonada homenagem e de compartilhar com vocês essa maravilha que prova que distopia pode ser muita coisa, inclusive David Bowie, e que David Bowie podia ser todas as coisas, inclusive distopia! <3 comment-3--="">






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