segunda-feira, 7 de março de 2016

Velório em minha casa

por CA Ribeiro Neto - Twitter 


Acordei sem me sentir muito bem. Com a sensação de estar preso à cama. Levantei-me com dificuldade, sentei-me na cama e escutei um burburinho vindo da sala de casa. De cara, já estava estranho o fato de que minha esposa se levantou da cama antes de mim, mas, enfim, devia ser ela a receber visitas. O relógio marcava 15h, mas o sol que entrava pela janela não era forte, o que me fez concluir que, ou o relógio parou, ou o céu está bem nublado. Como eu já estava vestido decentemente, fui na direção da sala, pra saber qual o motivo daquela reunião. Encontrei a minha família em peso de luto, um caixão escuro no meio da sala, velas acesas. Todos estavam de cabeça baixa ou conversando em círculos animados. Procurei minha esposa, que estava na cozinha, sem parar de chorar e de fazer café. As amigas delas, todas me ignorando, tentavam afasta-la do fogão, em vão. Voltei pra sala, na ânsia de entender algo, ninguém queria olhar para a minha cara, parecia que eu era culpado de algo e todos estavam chateados comigo. Será que fiquei sonâmbulo e fiz algo, será que matei alguém? Resolvi, então, fazer o mais óbvio: ver quem estava deitado no caixão. Aproximei-me, estiquei-me e vi meu rosto lá dentro. Não é possível! Se estou morto, como estou me vendo? Se estou vivo, quem está ali dentro? É um sonho. Só pode ser um sonho! Tenho que acordar: vou voltar pra cama. De volta ao quarto, de meu colchão saíam vários braços asquerosos, buscando se agarrar em algo. Ao lado da cama, em pé, de paletó, gravata e uma mala com a logo de um banco de crédito para aposentados, um homem diabólico me diz: "Não adianta rezarem para ti, teu lugar já está reservado conosco."

3 comentários:

Danilo Maia disse...

Cara, gostei muito!!

Um texto super levinho!! haha

Muito bom!

CA Ribeiro Neto disse...

Leve e longo! heurhuerhueh

Hermes de Sousa Veras disse...

O Evangelho Segundo CA Ribeiro