por CA Ribeiro Neto - Twitter
coluna: Da nossa opção por voar
No mínimo curioso é o casal que
mora, desde o começo da década de 70, numa cidade maravilhosamente praiana do
Ceará. São conhecidos porque suas profissões assim os fazem, mas não chamam,
nem gostam de chamar atenção. Miguel toma de conta de uma barraca de praia, a
mais simples da orla, cujo dono ninguém conhece. Dara era uma das poucas
agentes de saúde que o Governo do Estado alocou para aquele município.
Como vocês podem imaginar, eles
não passavam o dia juntos. Ele não saia da barraca; ela tinha que visitar seus pacientes
nas muitas periferias. Contudo, à noite, sempre ficavam juntos e mal eram
vistos assim.
Não frequentavam a missa, nem o
culto, nem o terreiro; não apareciam nas noites de quermesse, nem nas festas de
São João, nem na tradicional velejada de aniversário da cidade, muito menos no
mela-mela do carnaval.
Todos os conheciam e eles faziam
questão de cumprimentar quem passasse por perto, sendo já tradicional a fama de
simpáticos. Não faziam, nem eram alvo de fofocas.
Não tinham netos, porque não
tiveram filhos. Nunca apareceram parentes de longe. Quando vão fazer a
feira de casa, nunca se envolvem em discussões de política, ou futebol. Nunca
manifestaram votos ou mesmo foram vistos votando.
Sobre a cidade, prefiro não
informar sua exata localização; mas desde o começo da década de 70, quase não há
morte morrida, mas as poucas vezes em que houve, foi de turistas; os moradores
só morrem de morte matada ou longe da cidade. Nunca mais houve fortes ressacas
invadindo a praia nem as casas de veraneio, nunca mais teve epidemias, nem grandes
secas. Desde essa época, não há necessidade de racionamento de água e nunca
teve baixa no volume de pescados. A agricultura nesse tipo de terreno é
difícil, mas supre a maioria da subsistência e o que não se dá aqui é
facilmente comprado graças a uma economia modesta, mas sempre superavitária e
estável.
Enfim, melhor mudar de assunto,
deixa quieto. Nunca subestime, nem tente decifrar os encantos e mistérios que sempre
envolvem cidades maravilhosamente praianas.
3 comentários:
Muito curioso. Agradável o clima de mistério, e claro, o da praia. Ah, sal-dades!
Fiquei imaginando um romance. Adorei!
Fiquei imaginando um romance. Adorei!
Postar um comentário