coluna: Em cada canto um conto
Não
houve diálogo algum. Aquele cara parecia não se interessar por aquilo que não
pudesse ser abreviado. De joelho, eu babava naquele pau rosa e raspado,
enrolando na minha língua aquele cabeção inteiro e tentando sucumbir cada gota
salgada da saliva que me escorria pelos cantos da boca, com a sede de um animal
preso em uma selva aberta, mas vigiada por predadores armados e esperando um
vacilo qualquer. Tomava fôlego vez por outra, quando ele soltava minha cabeça
de suas mãos para esmurrar a parede. Cavalguei naquele pau melado, que parecia
tão diferente dos outros; ele de braços abertos, mordendo o lábio inferior e
segurando na minha cintura despida, tudo isso no meio daquele mijo, daquela
lama podre, naquele piso imundo. Cansado, tentei beijar sua boca, e só então me
lembrei de algo: uma transa das mais intensas que tive sem ao menos saber o
nome daquele loiro, uma loucura!
-
Baby, qual é mesmo teu nome? - sussurrei-lhe ao pé do ouvido, sem sair de cima
da piroca.
-
Desculpa, cara. Te conheço bem, sei bem mais que teu nome, tua vida, mas o meu
fica só comigo – pareceu incomodado, como se quisesse parar a transa.
O clima ficou um tanto tenso. Saí do
seu colo, receoso por tê-lo constrangido, mas é que tamanho mistério começava a
me intrigar e assustar. Vesti a calça, limpei a boca com as costas das mãos, enquanto
ele puxava um cigarro preto do bolso da bermuda preta que vestia.
-
Vou indo nessa, e desculpa ai a pergunta em hora tão inapropriada... Foder
contigo foi bom. Te vejo em breve?
Ele
pareceu, por um momento, que não iria responder.
-
Foi nada não, apenas não curto quando há curiosidade sobre mim, acho até
desnecessário. Tem um cu maravilhoso, apertadinho, bom de foder. Pareceu um
virgem que comi no último carnaval, mas achei o teu ainda melhor. – soprava a
fumaça na minha direção, enquanto alisava a cabeça do pau e retirava um excesso
viscoso que havia ficado lá – Olha – continuou - não fique querendo saber quem
sou, basta saber que hoje estou generoso, e resolvi te dar alguns anos a mais
de foda para dar este cuzinho delicioso por aí.
Mostrei-lhe um sorriso amarelado e
saí balançando a cabeça para um lado e outro, achando que havia transado com um
louco, lindo, mas completamente louco. Saí do box. Ao passar pela porta, cruzei
com Cleonor, colega de curso, que apenas tocou meu ombro e saudou-me com um “hey” arrotado, como fazem a maioria dos
heterossexuais ao encontrarem um colega homo no mesmo banheiro. Nem bem
atravessei o pátio e, antes de chegar ao bebedouro, escutei três tiros dentro
do banheiro, o mesmo do qual eu acabara de sair. Todos correram para ver. De
pernas bambas, imaginando milhões de coisas em frações de segundos, fui
passando por um e outro, e deparei com aquela cena:
Cleonor
estirado no chão, ao seu lado uma poça de sangue enfaticamente vermelho
misturado à lama e ao mijo; e Lindomar, outro colega de
curso, que há seis meses encontrava-se em tratamento por uma crise em alto grau
de depressão, de arma de mão e gritando feito um enlouquecido, totalmente
surtado, e que há duas horas estava escondido em um dos box’s e esperando o
primeiro que entrasse naquele banheiro para mandar ao inferno.
Corri
ao primeiro box, o da transa, mas não havia ninguém lá, pois, na verdade,
disseram que nunca houve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário