quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Negociante - Parte II

por Alex Costa - Facebook
coluna: Em cada canto um conto





          Não houve diálogo algum. Aquele cara parecia não se interessar por aquilo que não pudesse ser abreviado. De joelho, eu babava naquele pau rosa e raspado, enrolando na minha língua aquele cabeção inteiro e tentando sucumbir cada gota salgada da saliva que me escorria pelos cantos da boca, com a sede de um animal preso em uma selva aberta, mas vigiada por predadores armados e esperando um vacilo qualquer. Tomava fôlego vez por outra, quando ele soltava minha cabeça de suas mãos para esmurrar a parede. Cavalguei naquele pau melado, que parecia tão diferente dos outros; ele de braços abertos, mordendo o lábio inferior e segurando na minha cintura despida, tudo isso no meio daquele mijo, daquela lama podre, naquele piso imundo. Cansado, tentei beijar sua boca, e só então me lembrei de algo: uma transa das mais intensas que tive sem ao menos saber o nome daquele loiro, uma loucura!
- Baby, qual é mesmo teu nome? - sussurrei-lhe ao pé do ouvido, sem sair de cima da piroca.
- Desculpa, cara. Te conheço bem, sei bem mais que teu nome, tua vida, mas o meu fica só comigo – pareceu incomodado, como se quisesse parar a transa.
          O clima ficou um tanto tenso. Saí do seu colo, receoso por tê-lo constrangido, mas é que tamanho mistério começava a me intrigar e assustar. Vesti a calça, limpei a boca com as costas das mãos, enquanto ele puxava um cigarro preto do bolso da bermuda preta que vestia.
- Vou indo nessa, e desculpa ai a pergunta em hora tão inapropriada... Foder contigo foi bom. Te vejo em breve?
Ele pareceu, por um momento, que não iria responder.
- Foi nada não, apenas não curto quando há curiosidade sobre mim, acho até desnecessário. Tem um cu maravilhoso, apertadinho, bom de foder. Pareceu um virgem que comi no último carnaval, mas achei o teu ainda melhor. – soprava a fumaça na minha direção, enquanto alisava a cabeça do pau e retirava um excesso viscoso que havia ficado lá – Olha – continuou - não fique querendo saber quem sou, basta saber que hoje estou generoso, e resolvi te dar alguns anos a mais de foda para dar este cuzinho delicioso por aí.
           Mostrei-lhe um sorriso amarelado e saí balançando a cabeça para um lado e outro, achando que havia transado com um louco, lindo, mas completamente louco. Saí do box. Ao passar pela porta, cruzei com Cleonor, colega de curso, que apenas tocou meu ombro e saudou-me com um “hey” arrotado, como fazem a maioria dos heterossexuais ao encontrarem um colega homo no mesmo banheiro. Nem bem atravessei o pátio e, antes de chegar ao bebedouro, escutei três tiros dentro do banheiro, o mesmo do qual eu acabara de sair. Todos correram para ver. De pernas bambas, imaginando milhões de coisas em frações de segundos, fui passando por um e outro, e deparei com aquela cena:

Cleonor estirado no chão, ao seu lado uma poça de sangue enfaticamente vermelho misturado à lama e ao mijo; e Lindomar, outro colega de curso, que há seis meses encontrava-se em tratamento por uma crise em alto grau de depressão, de arma de mão e gritando feito um enlouquecido, totalmente surtado, e que há duas horas estava escondido em um dos box’s e esperando o primeiro que entrasse naquele banheiro para mandar ao inferno.


Corri ao primeiro box, o da transa, mas não havia ninguém lá, pois, na verdade, disseram que nunca houve. 

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