terça-feira, 19 de julho de 2016

Ah, España…

Coluna: Sobre Vênus


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Em dois dias viajo de volta pra casa. E agora começa uma nova forma de sentir, porque quem vive fora de casa, nem que por pouco tempo, tem uma sina de conviver com a saudade pra sempre. Quando se vai embora, fica a saudade de seu lugar no mundo, de seu apego e identificação com sua cultura, com a paisagem de todo dia, dos amigos, da família e das coisas ruins também. Pra apaziguar os sentimentos, normalmente se reforça os vínculos com seu novo lugar. Você começa a observar melhor o seu entorno, a se apaixonar pelo dia a dia, pelo novo que se torna conhecido, pelo visual, pelas casas dos outros, o jeito dos outros, a vida dos outros, que se torna sua também. E aquele lugar estranho, desconhecido, se transforma também em sua casa. Aquelas pessoas estranhas transformam-se também em seus amigos e família. E você vive nessa dualidade, de se adaptar e não se adaptar constantemente. E quando se vai embora, na verdade de volta a sua casa original, a dualidade só aumenta. Porque se sabe que os seus estarão sempre ali (nem que só em forma de afeto), que sua cidade materna sempre estará ali, mesmo que mude um pouco, normal, mas é um porto seguro. Mas quando se deixa algo que se lutou tanto para conseguir, que se empenhou tanto pra fazer valer, pra ser seu, cheio de histórias e sentimentos, como faz?

Acho que a despedida da minha casa na Espanha foi muito pior que da minha casa em Fortaleza. Porque minha casa continua ali, meus pais, minhas lembranças e meu futuro também. Mas e minha casa aqui? Todo o processo de guardar coisas, se desfazer de outras, empacotar, fazer mudança, faxina e entregar uma casa limpa e vazia é de fazer chorar. Parece que estive escrevendo num papel por todo um ano e agora apago tudo que escrevi para que outra pessoa possa escrever ali. A mensagem do texto está toda em mim, em meu corpo, em minha memória, mas a realidade é que nunca mais vou morar ali. Nunca mais vou ouvir os vizinhos brigando, outra vizinha cantando alto e mal, receber mil amigos num apertinho de sala, nem passar a tarde bebendo cerveja e assistindo vídeos engraçados no sofá.

Agora que vou embora, o apego à vida aqui está tão forte quanto à minha vida em Fortaleza.

É o que diz todo intercambista: a hora de voltar é ainda mais difícil que a hora de partir.

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