quarta-feira, 27 de julho de 2016

É preciso sentir o mar

por Maria Freire


[ | ]



“Tenho uma surpresa para você”. O espírito de Lia encheu-se de magia ao ouvir as palavras do pai, ainda mais hoje, que era o seu aniversário de 10 anos. Em todos os seus aniversários era a mesma coisa, ela tinha a esperança de conhecer o mar. Mas as primaveras foram passando e ela ia crescendo sem nunca conhecer o mar, pois ela era de família humilde e o dinheiro que o pai ganhava como catador mal dava para as despesas da casa. Ela não parava de sonhar e os seus pensamentos a levava a lugares nunca antes navegados que sempre remetia a imensidão do mar com todos os seus encantamentos. Um dia, cansada de sonhar, Lia esqueceu o mar e o seu olhar deixou de brilhar. Os seus pensamentos já não eram os mesmos. Na sua rotina de trabalho, o pai de Lia encontrou uma concha jogada em meio a um monte de sacos de lixos. Ele a pegou tirou a sujeira e embrulhou em um papel de presente e guardou para o dia em a pequena Lia completaria mais uma primavera. Quando o pai lhe entregou a concha, a primeira coisa que fez foi colocar a concha perto do ouvido. Ela sentiu como que o inverno lhe invadir o corpo de um só galope e viu-se diante do mar de um azul nunca visto antes. Com timidez, ela se aproximou do mar que parecia que ia lhe devorar com a sua imensidão, e sentiu as ondas agitando-se diante dos seus pés descalços, o vento a lhe tocar a face e esvoaçando os seus grandiosos cabelos negros. Aquela com certeza foi uma das melhores sensações que Lia passou na vida. A partir desse dia, Lia dorme todas as noites com a concha ao seu lado para nunca deixar de sonhar com o mar.

Nenhum comentário: