domingo, 3 de julho de 2016

Poesia de Caneca

Coluna: Hipermetropia


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Na grande maioria das vezes, creio, temos pouco ou nada a acrescentar. Acontece que quem fala muito sente uma espécie de coceira na língua, uma vontade arretada e incontrolada de ouvir sua própria voz. Talvez para tentar concentrar seus pensamentos em um canal só, tentando organizar a bagunçada zona das ideias ou mesmo descobrir o que pensa das coisas. Será por isso que muitos falam consigo mesmos, literalmente?

Escrevo isto com conhecimento de causa, haja vista que, embora não consiga falar comigo mesmo, posso falar sozinho por horas, desde que alguém ao menos finja que me escuta. É, de perto não existe o normal. Por não conseguir falar só, me transcrevi em papéis. Em versos e em prosa. 

Todavia, a maturidade pode chegar e, com ela, ou a coceira da fala passa ou o autocontrole surge. Ou um tanto dos dois. Enxergamos que não temos tanta coisa a dizer, descobrimos o texto dos espaços entre as palavras, entre os versos.

Nasceram, pois, do recorte de palavras desnecessárias, poemas curtos, de poucos versos. 

Vale dizer também que gosto de embriagar em versos, oferecendo-os em canecas. Como o faço em várias manhãs para minha amada. Eis outro porquê do surgimento de tais poemas: necessito de poemas que caibam em canecas; ou que tentem caber, pois, sabemos, poesias transbordam.

Dadas tais explicações, mais um pouco de Poesia de Caneca.


O som do meu pensamento

Retiro meu assento e silencio
Calo
Dói

Questiono o que me sei,
Acentuo novamente indagações certas, e
Silêncio.



Pedro Gurgel Moraes.
Aluno da Escola da Vida.
Amante da Mulher Mais Bela.
Navegador dos Mares dos Sonhos.
Sob o Olor do Lírio e a Luz da Estrela.

2 comentários:

Hermes de Sousa Veras disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hermes de Sousa Veras disse...

Gosto de poemas assim, sem poluições.

A temática me lembra um trecho de José J. Veiga, em A hora dos ruminantes. Aí vai:

"“A fala de cada um devia ser dada em metros quando ele nasce. Assim quem falasse à toa ia desperdiçando metragem, um belo dia abria a boca e só saía vento”.