Coluna: Nada é por acaso
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Carlos estava de pé próximo à janela, nem mesmo o olhar fixo o fez perceber que a noite estava negra, sem o habitual brilho das estrelas. A carta quase solta de suas mãos e, de tão absorto, ele não se deu conta da carta caindo entre os seus dedos. A sua expressão denunciava a angustia de quem perde algo. Ao ler aquela carta, sentiu um vazio e um frio a invadir-lhe o corpo. Este frio espantoso vinha com pensamentos que haveriam de acompanhá-lo por muito tempo, sem que nada os pudesse atenuar.
Os pensamentos o invadia de um só golpe e eles eram capazes de reconstituir momentos vividos. E a cada recordação, podia reviver claramente as cenas daquele outono. Apesar do tempo transcorrido, podia recordar perfeitamente os sons, os odores e o vento a fazer as flores dançarem na suavidade da noite. O toque das mãos quentes encostadas na sua. Naquela noite, ele descobriu o amor. E a amou desde aquela noite para sempre.
Apesar das recordações lhe aquecer o coração, o frio o atormentava. Era preciso desfazer-se do frio desagradável. Mas nem nessa noite, nem em muitas outras mais enquanto viveu conseguiu controlar o frio.
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