por Alex Costa - Facebook
coluna: Em cada canto um conto
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O dia começou nublado e frio, cinzento e preguiçoso. Jorge, sentado no sofá da sala de estar, esperava pela tia e pelo primo, vindos dos Estados Unidos, que desembarcariam no aeroporto naquela manhã. As poucas lembranças da tia, que fora morar no exterior ainda jovem, eram escassas e quase inexistentes. Apenas algumas fotos recebidas junto a cartões-postais. Primeiramente da tia e seu rico marido, dono de algumas lojas de conveniências e ações de empresas estrangeiras; depois chegaram outras que mostravam a tia e o filhinho, primeiramente ainda de colo, mas as correspondências permitiram que Jorge acompanhasse o crescimento de Peter. A diferença na idade dos primos era de apenas três anos: Jorge, com vinte e um recém-completos, e Peter, com dezoito, nos quase dezenove.
Jorge, ou Jorginho para os de casa, era um mulato de estatura média, ombros largos e peitos cheios; os músculos dos braços - bíceps e tríceps - volumosos e à mostra. Os cabelos encaracolados, iguais aos de um anjinho; os olhinhos apertados e uma boca carnuda, os dentes reluzentes do aparelho. Peter, seu primo americano, um pouco mais alto e a pele branco-vela, desses que nos embrulham o estômago. Jorginho achava engraçado ouvir a mãe dizer: “Peter diz que não vê a hora de conhecer as praias do Brasil, chega até a sonhar, acredita?”
O toque repetido da campainha, acompanhados de três pancadinhas na porta, avisavam a chegada dos parentes nunca vistos. Jorge levantou-se, alinhou a camisa gola polo que usava e desabotoou o primeiro botão – de cima para baixo -, ficando à mostra os primeiros pelos do peitoral. Ao abrir a porta, sua mãe entrou sacudindo o guarda-chuva, Jorginho nem notara que chovia lá fora; ao seu lado estava uma mulher, muito bem vestida e os braços a despencar de joias, decerto sua tia. O primo apanhava a bagagem do porta-malas do táxi que estava estacionado na calçada, quando Jorge foi ajudar com o peso. Ao se aproximar de uma das malas que estavam sobre a calçada, Peter segurou em seu braço e pareceu assustado, fez uma cara feia e era como pedisse que Jorge soltasse a mala. Assim Jorginho o fez: despendeu-se da mão do primo e jogou a mala sobre a calçada novamente, que o branquelo levasse todo o peso. Eles não sabiam, mas começava ali o choque entre culturas, corpos e sentimentos universais.
[Continua...]
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