sábado, 31 de janeiro de 2015

Gregório de Matos, nem tão maldito assim

O baiano Gregório de Matos, para quem não conhece, foi um dos principais poetas barrocos brasileiros, e o principal na arte de satirizar tudo e todos - tanto é que ganhou a carinhosa alcunha de Boca do Inferno. Quem o conhece, está acostumado com seus textos ácidos, inteligentemente cheios de palavrões; mas quando encontramos uma homenagem, ao invés de uma acusação, ele ainda nos brinda com uma incrível estrutura dos versos.

Se quiser dica para a leitura, as sílabas da linha do meio completam as palavras das linhas ao seu redor. Perceba a dificuldade de escrever tal poema e perdoem o "Juiz" com "s" e o "La" sem acento. Foi por uma boa causa.




Ao mesmo por suas altas prendas
Poema dedicado ao Desembargador Belchior da Cunha Brochado.


Dou      pruden       nobre huma                 afá
       to               te                       no                  vel
  Re          cien               benig         e aplausí
---



     Úni          singular ra                 inflexí
             co                      ro                       vel
Magnífi                precla            incompará
---



Do mun         grave Ju                    inimitá
             do                    is                            vel
Admira               goza            o aplauso crí
---



Po         a trabalho tan               e t                                 terrí
     is                             to                ão                                   vel
Da                      pron          execuç             sempre incansá
---



Voss            fa         Senhor sej                 notór
        a              ma                    a                          ia
     L       no cli          onde nunc           chega o d
---



   Ond         de Ere           só se tem memór
            e                bo                                   ia
Pra qu             gar              tal, tanta energ
---


     Po          de tod        est        terr          é gentil glór
           is                 a           a           a                           ia
Da ma          remot        sej         um                    alegr
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Gregório de Matos

* Erebo: filho do caos e da noite. Tomou parte na guerra dos Titãs e foi precipitado por Júpiter no Tártaro.



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NOTA DO VEM-VÉRTEBRAS: Mais um reforço para o grupo de colunistas, Fábio Rabelo Rodrigues também fará parte do nosso projeto. Vem por aí muita crítica literária e poemas da mais alta qualidade.

5 comentários:

Paulo Henrique Passos disse...

Digno de um modernista (na forma) em pleno século 17

Hermes de Sousa Veras disse...

Concretista? Modernista? Ou homem que habita o passado como quem habita o futuro?

CA Ribeiro Neto disse...

Pergunto-me e se esse formato, de repente, era mais comum na época, e se perdeu com o tempo.

Pedro Gurgel disse...

Boca do Inferno pode ser sua alcunha, mas divina é sua poesia!

Marcos Paulo Souza Caetano disse...

Exalta o cabra, depois manda ele pro inferno!