por Fábio Rabelo Rodrigues
e-mail: fabiorr87@hotmail.com
Coluna: Linguagem para Amar e Ruminar
Acho
curiosíssimo o alerta que se pode dar aos leitores quando se lida com a prosa.
É uma coisa, talvez, de estilo. Os machadianos sabem bem do que falo. Um tato,
um contato de boca a boca ou algo que esboça essa pretensão. Eu poderia partir,
por exemplo, alertando a todos que “isto é uma apresentação” e me libertando do
encargo de decepcionar quem me venha ler, ou poderia, exercitando o ócio e a
paciência alheios, dizer que “isto não é um cachimbo”. Enfim, tudo são meros
exercícios. E o propósito deste texto é deveras servir de apresentação.
Pois
bem, quando ao convite do querido Carlinhos, comecei a pensar esta coluna,
havia me seduzido uma ideia bem antiga, do tempo que essa coisa de escrita, que
isso de se deixar rabiscar era um bocado mais frequente e mais preciso do que
hoje é. Ao tempo do convite, aliás, lembro-me de que tinha já engavetado um
texto pronto, o que me polpou uma primeira escrita (momento adiado pra agora).
O texto era parte de um projeto antigo meu e da Lara Vasconcelos. Mas o projeto
não vingou e o texto ficou guardado. Bom, começo a contar isto de forma a me
esclarecer e a deixar por escrito um cartãozinho de visita. Não gosto de
cartões de visita, mas a analogia é precisa.
A
linguagem para amar e ruminar, a quem devo o título de um pequenino furto à
obra do poeta Herberto Helder, se entrega ao leitor, com muito mais do que
carinho, mas com um louvor de quem pretende fundar um lugar, um quartinho dos
fundos que seja, que se pretende servir de mínimo abrigo aos poetas sem
qualidades que compõem o meu lugar de afeto na poesia luso-brasileira contemporânea,
e que, sinto, carecem de que eu lhes fale a respeito. Afinal, este é o espaço
na literatura a partir de onde me organizo; a poesia brasileira e portuguesa
produzidas do modernismo para cá é precisamente o que trarei ao Vem-Vértebras.
É claro que esta classificação acadêmica acostumada a movimentos e escolas não
comporta nossos desejos (se assim fosse, deveria excluir deste diálogo com a
contemporaneidade poetas como Augusto dos Anjos ou Sousândrade, o que me
parece, ao menos, injusto), mas é especialmente desse período que alberga as
duas primeiras décadas do século XX até os nossos dias que se situam a maior
parte daquilo que me toca e que me mobiliza e é capaz de dizer ao nosso tempo o
que lhe cabe de seu nessa partilha.
Alternadamente, trarei o perfil de algum
poeta luso-afro-brasileiro acompanhado de um pequeno apanhado de versos do
autor em destaque; outrora trarei a esta mesma coluna um texto autoral, seja um
poema ou um conto miúdo.
Isto me custa um pouco menos. De
todo modo, o convite está feito para que me acompanhem com os olhos, com a
boca, com o corpo. Pois o nosso corpo é sedento por uma linguagem para amar e
ruminar.
3 comentários:
Fábio escreve como se estivesse copulando com as palavras. Sensualíssimo.
Hermes vê cópula em tudo.
Vou nem mentir, sabia que esses poetas existiam não! Mas amei descobrir. E gostei da escrita também!
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