domingo, 29 de março de 2015

Para além do SMASH! – Mulher Maravilha



O SMASH! Falando de Quadrinhos é um evento mensal realizado na Livraria Cultura de Fortaleza pela equipe do Avantecast, um grupo de pessoas aficcionadas pelas HQs como forma de linguagem, arte e entretenimento. Com a coluna “Para Além do SMASH!”, os integrantes do Avante vêm falar um pouco sobre o tema do mês do evento realizado na Cultura. O tema de março foi “Mulher Maravilha” e vamos falar um pouco sobre essa personagem que se tornou um símbolo.

A Mulher Maravilha e o pós-guerra nos EUA
Por Lucas Aquino
(Texto originalmente publicado na Rivista, Edição 157,da Editora Riso)

Os anos 1940 são tradicionalmente conhecidos como a ‘Era de Ouro’ dos quadrinhos de super-herói, não só pelo conteúdo mas, principalmente, pela imensa popularidade: estima-se que cada edição do Super-Homem vendesse, à época, no mínimo um milhão de copias, número inimaginável para os padrões de hoje em dia. Tamanho furor provocou grande polêmica sobre a influência dos super-heróis na juventude, inundando os jornais com artigos sobre o possível ‘perigo’ dos fantasiados. Em meio a eles, uma entrevista com o respeitado psicólogo William Moulton Marston, em que defendia o grande potencial educativo dos quadrinhos, chamou a atenção do editor da All-American Comics, Max Gaines. Gaines, lisonjeado, logo contratou Marston como consultor, oferecendo-o a oportunidade de publicar o título de algum super-herói. Acontece que Marston era um radical adepto das ideias feministas e logo viu na oferta a chance de escrever uma personagem que seria, segundo o próprio, uma “propaganda psicológica do tipo mulher que deveria comandar o mundo”. Nascia a então a Mulher Maravilha.
“Eu não precisava mais fingir gostar do estilo ‘pow!’ e ‘crunch!’ do Capitão Marvel ou do Besouro Verde... Aqui estava uma heroína que poderia vencer pela força, mas somente a força medida pelo amor e pela justiça”, disse Gloria Steinem, uma das líderes da segunda onda do feminismo norte-americano, sobre as primeiras histórias da Mulher Maravilha. A Princesa Diana criada por Marston era a escolhida de seu povo - as amazonas da Ilha do Paraíso - para propagar os ideais da igualdade e tolerância no mundo dos homens, inspirando suas irmãs mulheres ao caminho da libertação. Enquanto no resto da ficção popular as mulheres continuavam a ser representadas como frágeis e dóceis, a Mulher Maravilha derrotava em combate esquadrões de vilões, fossem eles espiões nazistas, ladrões de banco ou simples misóginos, edição após edição. Apesar disso, a personagem de Marston não escapava do sexismo: ao final de cada história, os feitos da Mulher Maravilha sempre acabavam creditados ao piloto da aeronáutica Steve Trevor, paixão platônica de Diana desde seu primeiro quadrinho.
Marston morreu seis anos depois de criar a Mulher Maravilha e não chegou a ver os caminhos inesperados que sua criação viria a seguir. Com a volta dos soldados americanos, com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres que haviam ocupado o espaço dos homens na cadeia produtiva foram forçadas a abandonar seus trabalhos e voltar ao papel de donas de casa. A indústria do entretenimento fez a sua parte e lançou, ao mesmo tempo, várias obras que buscavam incentivar mulheres a assumir o papel de subordinadas de seus companheiros, como a animação Cinderela e a série de TV Papai Sabe Tudo. A Princesa das Amazonas, infelizmente, também não escapou do mesmo destino. Ao longo dos anos, as histórias da Mulher Maravilha se resumiram cada vez mais ao seu romance com Steve Trevor, chegando ao ponto de Diana abrir mão de seus poderes e de suas irmãs amazonas para ficar com Steve, tornando-se então a dona de uma loja de roupas.
O tradicional cartaz com os dizeres “Nós Podemos Fazer Isso!”, de 1943, incentivava o engajamento feminino no trabalho fabril na época enquanto os homens eram enviados à Segunda Guerra Mundial. Com o fim do conflito, os soldados retornaram aos Estados Unidos e inúmeras mulheres foram demitidas. Na década de 80, o cartaz seria revisitado como símbolo da luta feminista.

Ao longo do tempo, essas mudanças acabaram sendo descartadas e Diana voltou a ser uma super-heroína. Mesmo sem retomar as raízes feministas, diversos autores deram sua visão para a Mulher Maravilha com relativo sucesso. George Perez é famoso por trabalhar o lado mitológico; Greg Rucka por mostrar o de guerreira implacável; Gail Simone, primeira roteirista mulher a escrever o título principal da super-heroína em 66 anos, por retratar sua feminilidade. Mesmo com sua imensa longevidade, a Mulher Maravilha continua a inspirar diversas mulheres ao redor do mundo a lutar por respeito e igualdade – para o desespero dos machistas, misóginos e, eventualmente, dos editores de sua própria revista.


Maravilha no audiovisual

Por Giovani Loiola

A princesa amazona já teve inúmeras aparições em outras mídias, tais como jogos, animações, séries e até um filme. Isso mesmo, caro(a) leitor(a), a Mulher Maravilha já teve um maldito fucking filme (chora, Aquaman!)!

A Mulher Maravilha marcou presença como uma das personagens principais nas séries animadas Superamigos, Liga da Justiça e Liga da Justiça sem Limites, além de aparições em outras animações como Justiça Jovem, Batman: Brave and the Bold, dentre outras. Uma curiosidade: em 1993, a DC (leia-se Warner) e Mattel fizeram um acordo para produzir alguns brinquedos e, devido a isso, produziram uma série animada quase que solo da princesa amazona intitulado "Wonder Woman And The Star-Riders" que funcionaria semelhante a série da She-Ra (irmã do He-man).

Com o sucesso da série do Batman dos anos 60, tiveram a ideia de fazer uma série equivalente para a Mulher Maravilha. "Wonder Woman: Who's afraid of Diana Prince?", como foi chamada, teve seu episódio piloto gravado em 1967, porém, por se tratar de uma série com uma linha cômica e nem de longe se parecia com a versão dos quadrinhos, logo foi para o limbo.

Alguns anos mais tarde, em 1975, Lynda Carter daria vida novamente à guerreira amazona em uma bem sucedida série intulada apenas "Wonder Woman". A série contava as primeiras aventuras da Mulher Maravilha ainda durante a Segunda Guerra Mundial, com direito a suas origens na Ilha do Paraíso. Em 2011, a NBC tentou emplacar uma nova série da Maravilha (chegou a gravar até um piloto que você acha por aí pela Internet), porém o roteiro de Diana morando em Los Angeles sendo uma combatente do crime nas horas vagas e, quando não, a presidente das Indústrias Themyscrya não agradou muito.

Quando se trata de filmes animados, a Mulher Maravilha tem um histórico longo junto aos seus amigos da Liga da Justiça, porém recebeu um longa animado para chamar de seu intitulado "Wonder Woman", em 2009.

Em 1974 (pouco antes da série com a Lynda Carter), a rede ABC chegou a produzir um longa diretamente para TV (como era de costume na época) da Mulher Maravilha, mas o produtores (que devem ter algum tipo de problema) escalaram uma ex-tenista loira que não tinha poderes e usava um uniforme totalmente diferente dos originais. Óbvio, ninguém curtiu. Mas, como já dizia o vídeo, para nossa alegria existe um filme em produção da Mulher Maravilha dentro do Universo Cinematográfico da DC Comics com previsão para 2017, com Gal Gadot dando vida à personagem. A direção ficará nas mãos de Michelle MacLaren, conhecida por dirigir episódios de séries como Breaking Bad, The Walking Dead e Game of Thrones.


Um grande fã da Mulher Maravilha
Entrevista por Pedro Brandão.

No SMASH! Falando de Quadrinhos de Fevereiro, tivemos uma tarefa bem difícil: resumir em  2 horas toda a trajetória de uma das personagens mais importantes da cultura pop. Diana Prince, ou, como é mais conhecida, a Mulher Maravilha é um dos maiores símbolos femininos do mundo, quiçá a maior personagem do gênero na ficção.

Então, nada melhor para entender o fascínio que a guerreira amazona causa em seu fãs do que falando com um fã! Falar sobre a Wonder Woman no SMASH! se tornou uma tarefa mais fácil quando tivemos do nosso lado o Gledson, mais conhecido como Gambit Dance, integrante do Tapioca Mecânica, um site excelente sobre cultura pop daqui do Ceará. Fiz algumas perguntas para entender o fascínio do Gambit pela Mulher Maravilha e as respostas vocês veem aqui.

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1) Como a Mulher Maravilha entrou na sua vida?
A Mulher-Maravilha faz parte da minha vida antes mesmo que eu me lembre. Minha mãe costuma contar que, ainda muito criança, eu via o seriado na TV e amarrava um lençol no pescoço pra depois ficar dando piruetas. Nem eu mesmo lembro disso. Depois disso, os personagens femininos foram recorrentes na minha vida: a Mulher-Maravilha nos Super Amigos, a Tempestade nos X-Men, Chun-Li, Sonya Blade, Mai Shiranui... Quando comecei a colecionar quadrinhos, já adulto, iniciar uma coleção da Diana foi um pulo!



2) O que causou o seu fascínio pela personagem? Qual a importância dela para você e para o mundo como um todo?
Eu sempre fui vidrado em mitologia grega, mas não sei dizer qual coisa é reflexo da outra. Quando comecei a ter algum entendimento que todo o mote da personagem girava em torno dos deuses do Olimpo, foi amor certo!
Ao meu ver, Mulher-Maravilha tem pra mim tanta influência quanto ela pode ter na cultura pop: representação! Uma mulher forte, dona do próprio destino, que está no mesmo patamar que os maiores heróis que já existiram, ou seja, o reflexo de como as mulheres podem ser no mundo real: estarem no comando de si mesmas, desfazer o paradigma da mulher que está sempre "por trás" de um homem de sucesso. Senhoras de si!

3) Qual o item da sua coleção que você mais gosta ou que tem mais valor sentimental?
Olha, eu tenho uma porção de itens caros, e alguns bem raros. Mas os que eu mais gosto, veja só, não estão entre eles. Dois itens tem lugar reservado no meu coraçãozinho: a Wonder Woman do desenho da Liga do Bruce Timm, de 30 cm, foi um presente de meu ex companheiro que, posteriormente, veio a falecer em decorrência de um câncer (minha primeira figura de ação dela). A outra, me toca a memória sensitiva: a Mulher-Maravilha do desenho dos Super Amigos, que me remete à infância.

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2 comentários:

CA Ribeiro Neto disse...

Sou um grande seguidor da produção Marvel, mas assumo que não tem personagem feminina tão icônica na Marvel como a MM!

Foi bom saber um pouco da historia dela!

Pedro Gurgel disse...

Apaixonei! Ainda mais.

Pequena crítica à DC: ela ainda veste roupas que valorizam a objetalização feminina. Só acho.