por CA Ribeiro Neto
coluna: Da nossa opção por voar
Quando não se tem muita coisa e o que se
tem pode ser deixado para trás, é porque precisamos mudar tudo. Ivo estava
nessa situação e, além disso, tinha coragem para mudar.
Pegou o que podia levar e o que era essencial. Vendeu quase tudo, fez a mala e
partiu.
Na
rodoviária, estudou um mapa grande do Estado, para escolher seu destino. Queria
praia, por se achar mais útil nesse ambiente.
Destino
escolhido, e depois de uma viagem de 3 horas, chegou a um lugarejo praiano, bem
pequeno. Usando de todo o seu carisma e da cara de quem é bem disposto,
conseguiu uma emprego de garçom de barraca de praia durante o dia, e de vigia
da mesma barraca a noite, só para ter o direito de esticar sua rede por lá.
Segunda-feira
é o dia da folga de praticamente a cidade inteira. Então Ivo sai a caminhar
pela cidade, tentando fazer amizade com os moradores e conseguir fazer algum
bico: consertar algum eletrônico, auxiliar algum pedreiro, aguar plantas, pegar
água no riacho. Conseguiu alguma coisa com seu carisma e com a cara de boa
pessoa.
Na
terceira viagem que fazia até o riacho, cruzou com uma garota, uma morena chocolate,
pela cor e pelo cheiro. Traços indígenas e um sorriso lindo que mostrava para
todos os conhecidos que ela conhece e gosta. Ele não estava nesse círculo.
Sentiu uma emoção que ele sabia bem o que
era, já se apaixonara antes, claro. Mas cada paixão tem o seu sabor – esse tinha
gostinho de chocolate. Sua estratégia foi:
1.
ir à missa todo domingo – seria o melhor jeito de coletar informações;
2.
conhecer sua família – o jeito mais confiável e;
3.
visitar sua casa – o jeito mais íntimo.
A
cada missa, uma informação. Luana, 19 anos, mora com os pais e tem um irmão
mais velho, adora sua localidade. O pai tem um pequeno mercadinho, visivelmente
precisando de ajuda. A mãe era dona de casa e, nas horas vagas, grande
costureira. O irmão, um universitário que mora na capital e vem nas férias e
feriados.
Toda
segunda-feira passava no mercadinho do Seu Adauto, pai de Luana, oferecendo seu
serviço. Passava cal na parede externa, recolhia entulho para fazer queimada,
organizava garrafas velhas no quintal, recebendo em troca mercadorias da venda,
sobretudo artigos de higiene.
Quando
Cristovão, filho de Seu Adauto, veio nas férias, eles construíram uma grande
amizade. A noite ele ia sempre passar um tempo conversando com Ivo na barraca,
alguém que conversasse com ele “sem a matutice daqui”.
Assim,
sua presença nos arredores de Luana tornou-se cada vez mais recorrente. Até
que, no café da tarde, estava ele a contar uma piada ingênua. Ele, com todo seu
carisma e sua oratória encantadora, fez rir a família toda, e em especial Luana,
que caiu numa longa crise de riso. Quando todos agora riam dela, e não mais da
piada, ela deu um soquinho no ombro dele e correu pro quarto. Pronto, o
primeiro contato.
Depois
disso, ao receber o almoço toda segunda, ele ganhava também um sorriso, ela um
elogio. Ele agora ganhava um copo de suco e um diálogo breve. Ele ganhava dela
perguntas curiosas sobre a capital e sobre sua ida rápida a São Paulo, ela
recebia todo um mundo a descobrir.
No
domingo seguinte, Ivo não a viu na missa. Achou estranho, mas resolveu esperar
o dia seguinte para receber novidades. No dia seguinte, na hora de receber o
almoço de seu amigo Cristovão, a notícia: ela tinha ido morar com uma tia em
Fortaleza, queria morar na capital. Ela se apaixonou pelo lugar, não por ele.
Um comentário:
Maior paia isso, vivia acontecendo comigo.
Mas o texto tá muito massa!
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