sexta-feira, 1 de maio de 2015

ELE, EU, ELE


por Danilo Maia
Twitter: @DaniloTakakara
Coluna: Faça [P]arte de tudo


Ele... Eu... Ele... Sei lá! Vou chamar de “ele” mesmo sendo “eu”.

Ele andava na mesma calçada que eu, mas no sentido contrário. Esbarrou em mim. Caímos. Ao olhar para ele... Era eu!!

Não consegui levantar. Ele riu, levantou-se e estendeu a mão para me ajudar como se tudo aquilo já estivesse combinado.

Continuei imóvel. Ele riu de novo. Aquela gargalhada gostosa. Ou melhor, a minha gargalhada gostosa!

Mais uma vez ofereceu a mão para me ajudar a levantar. Aceitei. Mão forte e ao mesmo tempo delicada.

Apontou para um bar perto e me ofereceu uma bebida. Argumentei que as pessoas achariam estranho. Ele questionou o que seria estranho, pois, pensariam, no máximo, que éramos gêmeos. Fazia sentido. Mas... “Você sou eu!”, protestei. Ele riu. “Ninguém pensará assim”, disse e foi em direção ao bar.

Entramos e ninguém pareceu nos notar – fiquei mais tranquilo. Fomos para a mesa que fica ao fundo. Pedimos a mesma bebida: uísque puro, ou cowboy [assim mesmo, falando em inglês]. Pelo menos, no futuro, vou continuar bebendo a mesma coisa. De repente, isso me fez pensar: Ele, eu, ele é do futuro?

Percebi que olhava para mim. Um olhar tão doce, solitário, triste. De menino que olha o brinquedo na vitrine da loja. Fiquei sem graça e virei o rosto para o lado. Depois, decidido, voltei a falar: “Você sou eu!” Ele ficou em silêncio, apenas me encarando. Repeti: “Você sou eu!”. Mas fomos interrompidos pelo garçom que trazia nossas bebidas. Ele virou em um só gole, do jeito que eu faço. “Bebe, vai”. Também virei o meu. Estendeu a mão para o alto e pediu ao garçom mais duas doses. E assim, ficamos a noite toda, bebendo em silêncio.

Após algum tempo, perguntei o que ele, eu, ele fazia aqui. “Vim encontrar você”, respondeu displicente. Então pegou minha mão e disse, “Me leva pra sua, minha, nossa casa”, e sorriu. Foi a minha vez de ficar calado. Levantou-se e me puxou pela mão e disse que sabia o caminho. Saímos do bar e pegamos um táxi. “Rua assim, assim”, falou ao taxista. Daí olhou para mim com um ar maroto como quem diz “Viu, eu sei!”.

Ao chegarmos em casa, foi até o som e colocou a minha, nossa música preferida e me puxou para dançar. Mesmo longe dos olhares reprovadores, fiquei constrangido. Abraçou-me apertado e sua respiração forte fez os pelos da minha nuca eriçarem. Mais uma vez, olhou fundo em meus olhos. Ah, aquele olhar!

Apesar de não ver rugas em seu rosto, sentia, sabia que ele era mais velho que eu. Não me contive e perguntei:
- Você veio do futuro? “Por que acha isso?”
- Então, veio do passado? “Por que acha isso?”
- Somos a mesma pessoa e, além de absurdo, isso não pode acontecer, pois — e exatamente como fazem nos filmes, ele colocou o seu indicador em meus lábios, me calando. “Shhh... Nada importa. Apenas o fato de que eu estou aqui”.

Encostou o rosto no meu. Sua, minha, sua barba por fazer quando roçou na minha pele me deixou tonto, então, ele, eu, ele me beijou apaixonadamente. Tirou minha roupa, tirou sua roupa. Abraçamo-nos e, aos beijos, fomos para a cama. Com força, me virou, puxou meu cabelo para trás e entrou em mim – eu entrei em mim – como nunca nenhum outro entrou. Senti tudo de uma forma totalmente nova. Podia sentir ele, eu, ele em mim. E sentia eu, ele, eu nele.

Quase em êxtase, sussurrei: Nada importa. Só que ele, eu, ele está aqui.

E como uma onda cálida banhando nossos corpos, gozamos.

4 comentários:

Unknown disse...

Muito criativo! Parabéns!

Danilo Maia disse...

Muito OBRIGADO!! ;-)

Alex Sampa disse...

Filosofia, non sense e sexo.

Danilo Maia disse...

O lance é misturar a p#rra toda! haha =D