quarta-feira, 13 de maio de 2015

Hoje o assunto é um filme!






Geralmente, quando pensamos em distopias pensamos em algo sério, tenso, dramático, político, profundo, violento e geralmente com uma pegada forte de ficção científica. E isso faz sentido, se lembrarmos que as principais obras distópicas tem justamente essas características, como 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Harrison Bergeron, Soylent Green,  etc...

Mas é bom lembrar que o mundo das obras distópicas é muito vasto. Tanto do ponto de vista do veículo, que pode ser um romance, um poema, um conto, uma graphic novel, um filme, uma música, um documentário, às vezes até um livro infantil, quanto do ponto de vista da linguagem, que pode ser mais dramática, mais poética, mais suave, mais profética, mais agressiva ou, neste caso, mais engraçada. A obra distópica de hoje foge um pouco do que se espera, mas surte o mesmo efeito de promover a reflexão. E, de quebra, faz a gente dar ótimas risadas!



O filme Idiocracia (Idiocracy, 2006) é uma comédia que conta a história de Joe Bauers  (Luke Wilson), um cara normal, mediano, nem excepcionalmente inteligente e nem excepcionalmente burro, que fica congelado durante 500 anos por conta de um experimento com criogenia feito por militares do governo dos Estados Unidos.

Quando ele acorda, a sociedade está bem diferente, porque ao longo destes 500 anos a humanidade “evoluiu” de tal maneira que a inteligência média das pessoas diminuiu significativamente, ou seja, o mundo está bem mais idiota (o que explica o nome do filme, dã!). O resultado desta transformação é que este cara, que antes era um homem médio, agora nesta nova realidade é o homem mais inteligente do mundo!

Vamos por partes. Primeiro vamos entender como a humanidade emburreceu tanto. Logo no início do filme, isto é explicado numa cena que eu acho simplesmente brilhante! A ideia é super simples, super precisa e, cá entre nós, eu acho que faz bastante sentido! Eu amo esse trechinho do filme e vou até colocar aqui pra vocês verem também.



A premissa é simples. Pessoas mais inteligentes e com formações educacional, acadêmica, intelectual e cultural mais ricas, tendem a ter menos filhos. Pessoas com um nível intelectual menor (e aí entra não apenas a inteligência, mas também o acesso à educação e à cultura) tendem a ter mais filhos. Extrapolando isso geração após geração, a tendência é haver cada vez menos pessoas inteligentes no mundo, logo, a tendência é que a inteligência média da humanidade diminua cada vez mais e, num intervalo de tempo longo o suficiente, o mundo passe a ser povoado por idiotas.

É claro que há uma série de discussões que caberiam aqui. Sabemos que QI não é sinônimo de inteligência, que inteligência e acesso à educação não são a mesma coisa, que há diversas formas diferentes de inteligência, que não há uma relação direta entre capacidade intelectual e número de filhos, que este assunto é bem mais complexo que isso e que há um monte de outras variáveis envolvidas, etc e tal. Mas trata-se de um filme de comédia, então vamos lhe dar a devida licença poética e refletir sobre as ideias que ele traz. E eu acho que a ideia proposta pelo filme é genial. Se simplificarmos a análise do assunto, acho que é bem neste caminho que nós (humanidade) estamos indo mesmo!

Uma vez entendido o processo de “idiotização” da sociedade, vamos ver como fica a vida do pobre do rapaz. Após ele acordar sozinho, perdido, desorientado e sem ter a mínima ideia de onde (e quando) ele está, se mete em altas confusões (Alô, Sessão da Tarde!) e acaba sendo preso. Na cadeia, ele é submetido a um teste de QI que detecta o fato de que ele é uma aberração, um homem extraordinariamente inteligente! Inclusive, o teste de QI aplicado é uma das coisas mais engraçadas do filme!



A partir desta descoberta, ele é convocado pelo governo americano para assessorar a solução de grandes problemas sobre os quais ninguém sabe o que fazer, uma vez que ele é tããããoooo inteligente assim. E o pior é que ele consegue resolver mesmo, porque são problemas muito simples, que só não são resolvidos mesmo porque o pessoal de lá é idiota!

A partir daí a trama vai se desenrolando, as coisas vão acontecendo e o filme não foge muito de um modelo de roteiro hollywoodiano. Tem a saga do herói, tem o par romântico, tem as amizades que se constroem pelo caminho, tem a superação de obstáculos, e por aí vai.



A grande sacada do filme mesmo é a descrição desta nova realidade, no ano de 2505. A reflexão que o filme nos propõe deriva da proximidade que a nossa realidade atual já tem com o cenário retratado, o que existe é apenas uma extrapolação. Se a gente for parar pra pensar, a poluição, a superpopulação, a qualidade questionável do entretenimento, a banalização da política, a negligência com a saúde e a alimentação, a supersimplificação das formas de comunicação, tudo isso já está ao nosso redor, apenas em um grau menor (será?) do que o retratado no filme.

O filme já tem quase dez anos de lançado e assistir ele hoje em dia ainda traz o bônus de podermos observar o quanto daqueles quinhentos anos de emburrecimento nós já caminhamos, o que assusta um pouquinho mais, mas também enriquece a experiência.

Além de ser uma ótima comédia, de fazer rir um bocado e descontrair a gente, este é um filme que sugere uma reflexão importante, necessária e extremamente atual. Que direção nós estamos tomando? Será que estamos idiotizando coletivamente? Como podemos modificar este rumo que a sociedade está tomando?

E não são estes os questionamentos que uma boa distopia deve nos trazer?!

3 comentários:

Leco Silva disse...

Curti!

Ressalvas necessárias, que o assunto é polêmico, mas nada mais justo do que tratar uma distopia cômica de forma mais leve - dando algumas liberdades aqui e acolá - sem deixar de absorver a crítica.

Fiquei curioso o suficiente pra procurar ver o filme e reagir à idiocracia à minha própria maneira.

CA Ribeiro Neto disse...

Sim, o filme entrou na minha lista de filmes a assistir! E eu gosto muito de como a autora escreve. Precisamos de mais textos leves na internetÊ

polinemacedo disse...

Preciso assistir esse filme! E Clarita, se eu fosse vc repensaria esse negócio de não ter filhos. Imagina só as consequências disto pra o planeta?!