sexta-feira, 19 de junho de 2015

Relatório

por Mario Oliveira
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Coluna: (des)construindo 


- Última chamada do voo 1508, embarque pelo portão 2. – Anunciava a voz no fraco sistema de som do Aeroporto. A voz, abafada e distorcida, anunciava o iminente fechamento de mais um voo. 

Eles se entreolhavam, evitando um pouco o contato visual. A mão de um passeava carinhosamente pelo braço do outro. Seus lábios faziam sons, mas suas vozes não apareciam. Havia, aparentemente, muita coisa a dizer, mas pouca coragem para externar estes sentimentos. 

A pessoa mais alta, valendo-se de um físico mais avantajado, puxou a mais baixa para um abraço. A mais baixa resistiu. Parecia, aos meus olhos de espectador, que havia muita resistência ao abraço, mas não uma resistência que simbolizava raiva, rancor. Era mais para o lado de uma negação, de alguém que não aceitava a perda que estava prestes a ter que enfrentar. Sem mais forças para resistir, a pessoa mais baixa sucumbiu ao aperto exigido. Porém, em último sinal de enfrentamento, mantinha a cabeça virada ao lado oposto. Neste momento, lágrimas já brotavam em seus olhos.

Ao analisar a resistência, a pessoa mais alta pegou a mais baixa pelos ombros, como se pedisse sua inteira atenção. Um puxão, algo que dizia: pare de fugir! Eles se olharam diretamente, e toda a sua conversa sem sons podia ser entendida por todos aqueles que, como eu, assistiam a cena.

Eu poderia tentar, senhores, neste relatório, explicar todos as possibilidades de diálogos que existiram naquele momento. Mas acredito que, ao descrever esta cena a todos vocês, eu conseguirei um efeito até maior do que imprimir minhas próprias ideias, pois cada despedida é uma vivência única. O que é necessário dizer, entretanto, é que aquela encarada resultou em um abraço verdadeiro, que levou as duas pessoas às lágrimas.

Devo confessar que não vi quem se despediu de quem. Mas pouco importa, senhores, assim como não importam outros detalhes tão frívolos aos quais damos atenção no dia a dia. Não importa nada quando chega o momento único que é o momento da despedida. Aquele vácuo temporal, vórtice que nos puxa a um espaço onde podemos nos despedir das pessoas que amamos. Lugar onde nada mais é escutado e sentido. Na despedida, isolados em pares ou grupos, nos separamos do mundo ao redor e, quando voltamos, tudo que nos resta é o sentimento da perda, a vontade do retorno.

Quando a despedida foi concluída, tudo o que restou foi a saudade.

Um comentário:

CA Ribeiro Neto disse...

Tantos compartilhamentos no facebook representam bem o que é esta crônica!