por Mario Oliveira
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Coluna: (des)construindo
Coluna: (des)construindo
- Última chamada do voo 1508,
embarque pelo portão 2. – Anunciava a voz no fraco sistema de som do Aeroporto.
A voz, abafada e distorcida, anunciava o iminente fechamento de mais um voo.
Eles se
entreolhavam, evitando um pouco o contato visual. A mão de um passeava
carinhosamente pelo braço do outro. Seus lábios faziam sons, mas suas vozes não
apareciam. Havia, aparentemente, muita coisa a dizer, mas pouca coragem para
externar estes sentimentos.
A
pessoa mais alta, valendo-se de um físico mais avantajado, puxou a mais baixa
para um abraço. A mais baixa resistiu. Parecia, aos meus olhos de espectador,
que havia muita resistência ao abraço, mas não uma resistência que simbolizava
raiva, rancor. Era mais para o lado de uma negação, de alguém que não aceitava
a perda que estava prestes a ter que enfrentar. Sem mais
forças para resistir, a pessoa mais baixa sucumbiu ao aperto exigido. Porém, em
último sinal de enfrentamento, mantinha a cabeça virada ao lado oposto. Neste
momento, lágrimas já brotavam em seus olhos.
Ao
analisar a resistência, a pessoa mais alta pegou a mais baixa pelos ombros,
como se pedisse sua inteira atenção. Um puxão, algo que dizia: pare de fugir!
Eles se olharam diretamente, e toda a sua conversa sem sons podia ser entendida
por todos aqueles que, como eu, assistiam a cena.
Eu
poderia tentar, senhores, neste relatório, explicar todos as possibilidades de
diálogos que existiram naquele momento. Mas acredito que, ao descrever esta
cena a todos vocês, eu conseguirei um efeito até maior do que imprimir minhas
próprias ideias, pois cada despedida é uma vivência única. O que é necessário
dizer, entretanto, é que aquela encarada resultou em um abraço verdadeiro, que
levou as duas pessoas às lágrimas.
Devo
confessar que não vi quem se despediu de quem. Mas pouco importa, senhores,
assim como não importam outros detalhes tão frívolos aos quais damos atenção no
dia a dia. Não importa nada quando chega o momento único que é o momento da
despedida. Aquele vácuo temporal, vórtice que nos puxa a um espaço onde podemos
nos despedir das pessoas que amamos. Lugar onde nada mais é escutado e sentido.
Na despedida, isolados em pares ou grupos, nos separamos do mundo ao redor e,
quando voltamos, tudo que nos resta é o sentimento da perda, a vontade do
retorno.
Quando
a despedida foi concluída, tudo o que restou foi a saudade.
Um comentário:
Tantos compartilhamentos no facebook representam bem o que é esta crônica!
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