domingo, 19 de julho de 2015

Capitania da Procrastinação

por Mario Oliveira
Coluna: (des)construindo 

A função despertador do celular toca. Os olhos, semicerrados, indicam que talvez ainda não seja a hora certa de acordar. Os compromissos o aguardam, mas tudo o que ele quer, todo o sentimento de uma manhã como aquela representava, resumia-se em uma frase apenas:

- Só mais cinco minutinhos...

Os cinco minutos passaram e ele não acordou. Acordou 40 minutos depois, totalmente atrasado para os seus compromissos.
Toma água, escova os dentes. Pensa em café da manhã e no paradeiro da meia do par que usara no dia anterior. Culpa o cachorro. Pensa em fazer um café, já que pão não teve tempo de comprar, ou pelo menos isto ele repetia diariamente, como mantra matinal, para que pudesse justificar a falta da refeição.
Cruza a cidade, vai a trabalho. Inventa alguma desculpa qualquer. Sonolento, recebe atribuições e aos poucos sua lista de afazeres cresce. Lista, por sinal, já imensa pela quantidade de tarefas deixadas de lado.

- Faço esta aqui daqui a cinco minutos. Esta outra faço depois do almoço...
Não faz nem uma, nem outra. Corre de um lado para o outro. Fala com a mãe ao telefone. Reclama da vida, do insucesso. Reclama da falta de oportunidades. O chefe passa por perto uma, duas, três vezes. Bate no ombro do subordinado, que ainda ao telefone, responde:

- Preciso de cinco minutos, chefe...

O drible, a finta usada no chefe poderia render-lhe um lugar na seleção brasileira, se fosse uma jogada de futebol. Espera o horário da saída e, apesar do atraso, sai cinco minutos antes do prazo normal de saída.

- Cinco minutos... ninguém vai reparar.

Chega em casa, há artigos e seminários a preparar. A faculdade leva assim, nessa balada dos cinco minutos. Informa a si mesmo que, sim, em cinco minutos começará a estudar. E entre uma flechada e mulheres em roupas laranjas de séries de televisão, o tempo passa.

Chega a hora de dormir, pega o aparelho celular e joga algum jogo que, segundo ele, duraria cinco minutos. Três horas depois, não dorme, desmaia. E recomeça, com a rotina dos cinco minutos totalmente agendada. Lógico, tudo será realizado com pelo menos cinco minutos de atraso.

A capitania da procrastinação perde cinco minutos em tudo, até que perca a vida.

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