terça-feira, 7 de julho de 2015

Há vilões e heróis entre nós – Parte II



por CA Ribeiro Neto




Murilo desceu as escadas do prédio com pressa, seguiu pro trabalho pensando o que iria querer e onde iria comprar o desjejum. Entrou num boteco e pediu a média com um pão tostado. Quando de repente entrou no boteco uma senhora, por volta dos 60 anos, esmolando. Na hora, Murilo se lembrou da tia, sua mãe de criação. Era muito parecida, no seu modo de andar e mexer a cabeça. Lembrou que sua tia tinha o costume de comprar pães a mais para dar aos pedintes que iam de casa em casa. Pagou uma média com pão pra senhora. Foi para o trabalho com a garganta travada: não dá mais pra ligar pra tia.

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Parecia que o mundo iria explodir, e o epicentro da explosão será a firma que Sandra trabalha. Tudo de errado parecia estar acontecendo ao mesmo tempo e já não dava mais para escolher qual era mais prioridade. Por um segundo, baixou o rosto até as mãos encostadas na mesa. Quando sente algo em seu cabelo – um bilhetinho: “Cheira a flor, assopra a velinha! Inspira e expira, que vai dá certo!”.


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Menino Chico era filho de seu Chico, até que Iemanjá quis o mestre jangadeiro perto dela. E Menino, que adorava o pai, ficou numa casa cheia de mulheres, aos 6 anos. Todo dia de pesca era a mesma coisa, Menino Chico sumia de casa de madrugada e sempre o encontravam no topo das dunas, vendo as jangadas velejando no terral. A mãe ficava preocupada, não queria perder outro dos seus pra Rainha do Mar. Um dia, Maneco chegou à casa deles e falou que Menino Chico pedira para que ele o ensinasse a pescar, mas só o faria com a autorização da mãe. Ela olhou pra foto do finado e disse: “que se faça o gosto do pai”.

2 comentários:

Hermes de Sousa Veras disse...

Nos dias atuais eles não seriam considerados minicontos! Tá mais pra um épico. Já já nossos contos terão dois ou três períodos curtíssimos. Acho isso ruim não...
Gostei dos contos. Mais ainda do último.

CA Ribeiro Neto disse...

Realmente, tudo é uma constante alteração.

obrigado, amigo!