por Alex Costa - Facebook
coluna: Em cada canto um conto
A
quem não era. Tornou-se.
Eu
lembro que as luzes dos postes não iluminavam tudo, pois tu caminhavas furtivo
pelo escuro e esquivava-se no breu. Era uma escuridão densa e eu amiudava os
olhos na tentativa de te enxergar, mas de nada adiantava, tu estavas
imperceptível. Quase não acreditei quando me vi cerceado pelo teu relinchar,
alazão bravo, cortando a noite - também negra. Meu corpo quis esmorecer, como querendo entregar-se às tuas primeiras
palavras. Um pânico se apossou de mim e eu te quis tocar, mas tu corrias sem
cabresto. Tentei montar em ti, mas por ambos os lados eu escorregava sob teu
pelo macio, tu que ainda corrias disparado. Houve durante o breu outras vozes,
cabelos áureos e também cavalgantes, representativas e mentirosas, que
relinchavam liberdade quando estavam preso na mais pobre miséria psicológica. Novamente
tu desapareceste no breu. Ficaram tuas pegadas, que eu decidi não seguir por
medo, receio, pavor. O breu me ensinou coisas que nunca imaginei serem
aprendíveis, pobre eu. Foi no escuro do breu, a exemplo, que eu descobri que há
em uma lágrima, às vezes, duas. Por vezes senti aquele breu fazendo parte de
mim; em outras, sentia que ele se dissipava e as luzes dos postes tornavam-se
mais fortes – tudo engano. Não havia, na verdade, breu ao meu redor. Havia tu,
cavalo negro e indomável, me cerceando e deixando a vida correr, relinchando sem
pressa e deixando rolar o que não gira: minha paciência. Fechei os olhos e
respirei fundo. Aos poucos fui esmorecendo, desistindo de te tocar, te subir,
te montar, te lamber e te tentar. Descobri de forma avassaladora que, em outra
verdade, não havia um breu externo: o breu estava dentro de mim e eu não sabia.
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