domingo, 13 de dezembro de 2015

ROSSUMOVÍ UNIVERZÁLNÍ ROBOTI



Aqui, na coluna “Dois Minutos de Ódio”, o negócio é falar sobre distopias, sem nenhum tipo de discriminação! Valem todas as suas subcategorias; valem as obras de classificação questionável, que nem todo mundo concorda que sejam distopias; valem obras de todas as épocas, de clássicos a lançamentos; valem autores de todos os estilos, de poesia a filosofia; valem obras de todas as nacionalidades, idiomas e culturas... Mas, principalmente, valem todas as formas de arte distópica! Quero trazer pra cá e ajudar a mostrar que distopias podem ser muito mais diversas do que o combo trilogia de livros que bomba + adaptações cinematográficas milionárias! Por aqui a gente já viu conto, filme de comédia, livro regional, livro clássico, filme curta metragem, música, série adolescente... E hoje audaciosamente vamos aonde jamais pisamos: o teatro!

R.U.R. – Rossumoví Univerzální Roboti  foi uma peça teatral criada pelo dramaturgo tcheco Karel Čapek (pronuncia-se “Tchapek”) escrita em 1920 e encenada a partir de 1921. Após a sua encenação teatral, a transcrição do seu texto em forma de livro virou um enorme sucesso de vendas e, em 1923, já havia sido traduzida e publicada em mais de trinta idiomas diferentes! Em uma tradução livre, o título quer dizer “R.U.R. – Robôs Universais de Rossum”, mas aqui no Brasil ela foi lançada pela editora Hedra com uma inédita tradução diretamente do tcheco para o português com o título de “A Fábrica de Robôs”.


Esta peça foi um marco importantíssimo na história da distopia, porque introduziu o uso da palavra robot (robô) ao mundo da ficção científica! Muita gente atribui a Isaac Asimov a criação do termo robot, mas o que ele criou na verdade foi o termo robotic (robótica) e posteriormente as leis da robótica, se inspirando na palavra robot, que ele já conhecia de ter visto adivinha onde?!

Se o meu tcheco não estiver muito enferrujado, a palavra tcheca robota quer dizer trabalho, no sentido de trabalho forçado, e a palavra robotnik é uma derivação dela que quer dizer algo como servo ou escravo. Para a peça, Čapek introduziu a corruptela robot e o seu plural roboti para se referir aos servos muito peculiares descritos na sua história. Daí pra frente, o termo robot se perpetuou para os outros idiomas nas traduções da peça, por ser um neologismo muito difícil de adaptar. O resto é história e, hoje em dia, todo mundo sabe o que é um robô.

Os robôs de Karel Čapek são bem diferentes do conceito que nós conhecemos atualmente e a peça em si, em termos de qualidade de dramaturgia, nem é isso tudo. Mas a peça tem um valor histórico importantíssimo por ter influenciado direta ou indiretamente um monte de grandes obras e grandes autores de ficção científica clássica e contemporânea também.

Mas então por que eu to falando dessa aulinha de história e etimologia toda aqui numa coluna sobre arte distópica?! Porque, valor histórico e qualidade artística à parte, “A Fábrica De Robôs” é uma história interessantíssima da mais pura distopia!

A peça conta a história da indústria Rossum, que foi a primeira a criar “seres humanos artificiais” para serem comercializados em larga escala e utilizados como escravos em desempenhar as mais diversas funções do trabalho e do dia-a-dia, deixando os seres humanos livres para dedicar seu tempo e sua energia a tarefas mais “nobres”, como estudar, ler, pensar, medicar, conversar, debater, filosofar...

Os robôs dessa história não eram máquinas ou computadores, como o conceito que nós temos hoje, mas seres humanos mesmo, só que criados em laboratório e modificados para terem inteligência limitada e não terem personalidade, opinião, sentimento, ideologia, emoção, dor, sofrimento, apenas obediência, dedicação e eficiência. Não se especifica muito bem os métodos de criação, mas eles são alguma coisa meio na linha Frankenstein, algo como clones humanos geneticamente modificados.

Tudo vai bem, funcionando direitinho, com os robôs operando fábricas, cuidando de casas, servindo pessoas, tudo em harmonia, os herdeiros da família Rossum podres de ricos com a indústria de robôs... Até que um dos membros da indústria fabricante dos robôs, responsável pelas inovações, cria um novo modelo de robô, com um aumento da sua capacidade intelectual, com o objetivo de executar funções mais complexas, desobrigando ainda mais as pessoas. E é aí que a coisa dá pra ruim!

Com este aumento de capacidade intelectual e esta nova habilidade de ter um olhar crítico e fazer um julgamento, este novo modelo de robôs passa a questionar a posição de servidão à qual os robôs sempre haviam estado subjugados e tentam começar uma espécie de revolta dos robôs!


Qualquer semelhança com os vários movimentos de libertação de grupos sociais historicamente escravizados e subjugados ao longo da história da humanidade ~não é~ uma mera coincidência! Esta peça é uma grande alegoria usada para, através da arte, promover reflexões e discutir questões políticas, sociais e humanas importantíssimas! E não pra isso mesmo que a arte distópica existe?!


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