Hermes de Sousa Veras
Ligeiramente sombrio. No mais, consideravelmente feliz e tropical.
Coluna: Etnoliteratura
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– Ela morou em Belém por seis meses.
Disse-me um senhor, entusiasmado demais para estar dentro de um dos ônibus balançando pelas ruas, sujos e sucateados. Mas a conversa estabeleceu alguma sacralidade no ambiente; o responsável por isso era simplesmente a alegria do pensamento e a força da memória.
- Você é daqui?
Respondi que não.
– Tem um grande autor, o professor Benedito Nunes, uns dos paraenses mais conhecidos internacionalmente, que estudou a obra dela. Escreveu belos textos sobre Clarice.
Empolgado com o livro que eu estava lendo, que possuía a foto em evidência da autora na contracapa.
O homem se embebedou de memórias vivas:
– Eu sou agrônomo, mas ele foi meu professor... Benedito Nunes! Grande homem. É possível adquirir a obra dele na internet, comprar ou baixar. Vale muito.
– É verdade. Eu conheço alguns de seus textos, principalmente os sobre Clarice. De qualquer forma, quando cheguei em Belém ele havia acabado de falecer, foi uma pena não o ter conhecido – disse, levantando-me para descer apressadamente em minha parada, feliz em ter encontrado um outro para celebrar outras e outros, a lembrar que um galo sozinho não tece uma manhã. Ele precisará sempre de muitos outros galos, galinhas, ovos e livros.
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