quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

TOMO I

por Paulo Henrique Passos


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Coluna: Pensinto, logo existo




Há vidas que tomam rumo. A minha decidiu arrumar tomos.

“Máxima, sentença, adágio, apotegma. Esses termos meio vetustos servem para descrever um dos mais ilustres gêneros literários: o aforismo – ou seja, a frase curta, a tirada de espírito, cheia de agudeza e ironia. (...) Aforismos são o avesso do avesso das coisas, são clichês em negativo, antídotos contra o senso-comum e o pedantismo.”

Esse é um trecho da apresentação, feita por Manuel da Costa Pinto, do livro “Orações insubordinadas: aforismos de escárnio e maldizer”, de Carlos Castelo. Aliás, o título da apresentação já vai ao sentido do livro: “Desaforismos”.

Um pouco longe (ou bem longe, talvez) do tom, muitas vezes humorístico das tiradas de Carlos Castelo e de Millôr Fernandes, por exemplo, o que vou apresentar aqui pende mais pro tom reflexivo (e sarcástico às vezes). Não abro mão, no entanto, como os dois acima, do jogo de palavras e de ideias. Na verdade, acho que isso é o que mais me atrai, além das “verdades” contidas nas sentenças, é claro.

Bom, a primeira que trago (acima), como quase sempre, parte de um caso particular (no caso, eu) e tem pretensões de abarcar um universo maior (no caso, os outros) – o que estou fazendo aqui, na verdade, acho que quebra um pouco a ideia de aforismo, já que ele, de poucas palavras, permite múltiplas reflexões. Quer saber? Nessa primeira postagem, não vou fazer o que foi acordado – falar sobre a(s) ideia(s) contida(s) na frase. Deixo pro leitor as múltiplas ideias que podem (ou não) surgir a partir daquelas palavras (contando com o título). Comente se veio alguma ideia. Pra terminar, deixo uma sentença do mestre Millôr:

“Para escrever bem não é preciso muitas palavras, só saber como combiná-las melhor. Pense no xadrez”

Até a próxima.




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NOTA DO VEM-VÉRTEBRAS: comunicamos a saída do time de colunistas da Thay Freitas e a entrada do cronista Mario Oliveira. Seja bem-vindo!

3 comentários:

Hermes de Sousa Veras disse...

Acumulando tomos e/ou tombos! Espero que continues com coisas infinitamente pequenas em sua coluna. Como diria Gabriel Tarde: "A fonte, a razão de ser, a razão do finito, do definido, está no infinitamente pequeno, no imperceptível [...]"

Paulo Henrique Passos disse...

Os tombos, assim como os tomos, são inevitáveis. Aprendemos com os dois. Gostei da citação.

Marcos Paulo Souza Caetano disse...

Ora, convite aceito.

Especificamente sobre o aforismo, veio-me duas coisas ao pensamento.
1) Alguém que arruma tomos é uma pessoa sem rumo na vida. 2) Alguém que arruma tomos é uma pessoa com um rumo na vida.
A junção das sentenças deu essa dupla interpretação. Dependendo de como você lê, consequentemente, completa o sentido expresso. Mais exatamente, parece-me que completamos com a nossa visão o espaço entre o ponto final da primeira frase e a letra maiúscula inicial da segunda. Ali cabe tanto uma adversidade, "Há vidas que tomam rumo. (Mas a minha tomou outra coisa não rumo) A minha decidiu arrumar tomos", como cabe uma noção de continuidade, "Há vidas que tomam rumo. (E o rumo que a minha tomou foi) A minha decidiu arrumar tomos".
Muito interessante. O que faz do autor um vagabundo (nômade, errante, e também no sentido pejorativo popular de "sem rumo") e ao mesmo tempo alguém dedicado e "trabalhador" (contrariamente ao pejorativo). Por fim, os rumos são trilhados no nomadismo dos tomos.

Pronto, gostei. Se o intento for aforismos, além de poeta deve ser cirurgião. Abraços!