por Paulo Henrique Passos
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Coluna: Pensinto, logo existo
Há vidas que tomam rumo. A minha decidiu arrumar tomos.
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“Máxima, sentença,
adágio, apotegma. Esses termos meio vetustos servem para descrever um dos mais
ilustres gêneros literários: o aforismo – ou seja, a frase curta, a tirada de
espírito, cheia de agudeza e ironia. (...) Aforismos são o avesso do avesso das
coisas, são clichês em negativo, antídotos contra o senso-comum e o
pedantismo.”
Esse é um trecho da apresentação, feita por Manuel da Costa
Pinto, do livro “Orações insubordinadas: aforismos de escárnio e maldizer”, de
Carlos Castelo. Aliás, o título da apresentação já vai ao sentido do livro:
“Desaforismos”.
Um pouco longe (ou bem longe, talvez) do tom, muitas vezes
humorístico das tiradas de Carlos Castelo e de Millôr Fernandes, por exemplo, o
que vou apresentar aqui pende mais pro tom reflexivo (e sarcástico às vezes).
Não abro mão, no entanto, como os dois acima, do jogo de palavras e de ideias.
Na verdade, acho que isso é o que mais me atrai, além das “verdades” contidas
nas sentenças, é claro.
Bom, a primeira que trago (acima), como quase sempre, parte
de um caso particular (no caso, eu) e tem pretensões de abarcar um universo
maior (no caso, os outros) – o que estou fazendo aqui, na verdade, acho que
quebra um pouco a ideia de aforismo, já que ele, de poucas palavras, permite
múltiplas reflexões. Quer saber? Nessa primeira postagem, não vou fazer o que
foi acordado – falar sobre a(s) ideia(s) contida(s) na frase. Deixo pro leitor
as múltiplas ideias que podem (ou não) surgir a partir daquelas palavras
(contando com o título). Comente se veio alguma ideia. Pra terminar, deixo uma
sentença do mestre Millôr:
“Para escrever bem não é preciso muitas palavras, só saber
como combiná-las melhor. Pense no xadrez”
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NOTA DO VEM-VÉRTEBRAS: comunicamos a saída do time de colunistas da Thay Freitas e a entrada do cronista Mario Oliveira. Seja bem-vindo!
3 comentários:
Acumulando tomos e/ou tombos! Espero que continues com coisas infinitamente pequenas em sua coluna. Como diria Gabriel Tarde: "A fonte, a razão de ser, a razão do finito, do definido, está no infinitamente pequeno, no imperceptível [...]"
Os tombos, assim como os tomos, são inevitáveis. Aprendemos com os dois. Gostei da citação.
Ora, convite aceito.
Especificamente sobre o aforismo, veio-me duas coisas ao pensamento.
1) Alguém que arruma tomos é uma pessoa sem rumo na vida. 2) Alguém que arruma tomos é uma pessoa com um rumo na vida.
A junção das sentenças deu essa dupla interpretação. Dependendo de como você lê, consequentemente, completa o sentido expresso. Mais exatamente, parece-me que completamos com a nossa visão o espaço entre o ponto final da primeira frase e a letra maiúscula inicial da segunda. Ali cabe tanto uma adversidade, "Há vidas que tomam rumo. (Mas a minha tomou outra coisa não rumo) A minha decidiu arrumar tomos", como cabe uma noção de continuidade, "Há vidas que tomam rumo. (E o rumo que a minha tomou foi) A minha decidiu arrumar tomos".
Muito interessante. O que faz do autor um vagabundo (nômade, errante, e também no sentido pejorativo popular de "sem rumo") e ao mesmo tempo alguém dedicado e "trabalhador" (contrariamente ao pejorativo). Por fim, os rumos são trilhados no nomadismo dos tomos.
Pronto, gostei. Se o intento for aforismos, além de poeta deve ser cirurgião. Abraços!
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