sexta-feira, 29 de maio de 2015

Afinal, o que é uma Biblioteca?

 
 
Ou sobre a situação da Biblioteca Municipal de Fortaleza Dolor Barreira e a gestão de políticas públicas do livro, leitura e literatura na cidade de Fortaleza.


O que é uma Biblioteca? Respondendo sem rodeios, para a Prefeitura de Fortaleza é um depósito de Livros. A problemática não nasceu hoje, sempre tivemos uma dita Biblioteca Municipal que faz vergonha diante à imponência do nome “Biblioteca Municipal”, no caso a Dolor Barreira, que já teve como sede um prédio quase em ruínas e demorou bastante tempo para ganhar um endereço um pouco mais digno. As ruínas, porém, não é um acontecimento importante, elas nascem do abandono.

E se tem uma palavra que melhor resumiria o estado da nossa atual Biblioteca Municipal Dolor Barreira, essa palavra seria “Abandono”. Abandono esse não causado por seus funcionários, que se esforçam de todas as maneiras para manter pelo menos o básico do funcionamento de uma Biblioteca, ambiente limpo, pessoas bem recebidas. Porém, esse básico ainda é muito pouco.

Estruturalmente, a biblioteca tem dois andares, nos quais somente o andar de baixo é utilizado, a frente está pichada, as tinturas das paredes da frente estão gastas, a placa luminosa com os dizeres informando que ali é uma biblioteca está desbotada e mal acende. Entre dois prédios, a biblioteca é engolida pela escuridão do Benfica e muitas e muitos que por ali passam não sabem que que aquilo ali é a “BIBLIOTECA MUNICIPAL”, ou seja, representação maior do Livro, Leitura, e Literatura da Cidade de Fortaleza.

Não há divisão em todos os setores, de modo que o sistema de ar condicionado, muitas vezes defeituoso, não dá conta da climatização do espaço. A quantidade de mesas e cadeiras são mínimas e em estado degradante.

Não existe divisão entre salas de leituras e acervo, de modo que o consultante não pode se sentir minimamente à vontade para andar pelos acervos, fazendo barulhos ocasionais, ou tirando dúvidas com alguma amiga/amigo que esteja presente, pois tal fato iria incomodar as pessoas que procuram a biblioteca como o refúgio para seus estudos.

O Pátio de eventos, muito bonito e agradável, é usado como sala de leitura, desse modo, qualquer grupo de literatura, fórum de literatura, ou afins, que desejem usar o espaço, acabará também incomodando os frequentadores assíduos da biblioteca que por lá vão para estudar.

O Setor Braile está em total decadência, sem um funcionário para cuidar do acervo, esse setor, como um setor inabitado, serve também como uma sala de estudos.

O acervo está muito defasado, ultrapassado, não existe uma política de renovação constante de acervos e o público sequer pode contar com uma coletânea de periódicos, Jornais e Revistas de principal circulação do Estado e do País.

Falta mais funcionários especializados para apoio aos funcionários que já lá estão, bibliotecários formados e qualificados para cuidar dos acervos e do funcionamento da Biblioteca.

O setor de internet tem computadores desatualizados, com pouca manutenção e internet de baixa qualidade.

O Setor Infantil, alma de qualquer Biblioteca, é morto, mal se vê circulação de crianças e adolescentes.

Caso tivéssemos todos esses problemas supridos, ainda cairíamos em um outro grave problema, falta total de programação, a baixa quantidade de usuários da Dolor Barreira, poderia ser revertida se fosse investido em uma programação constante de contações de histórias, rodas de leituras, encontros com escritores, atividades temáticas prestigiando escritores Fortalezenses e Cearenses, exposições e outros.

O que seria o mínimo, pois, repetimos, essa é nossa “Biblioteca Municipal”, ou seja, o Retrato da Literatura, Livro e Leitura de Fortaleza. Contudo, se formos observar bem, o estado da Dolor Barreira, reflete o estado das políticas públicas do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, que são completamente inexistentes.

No início da gestão, nos diálogos com as linguagens, a Secretaria de Cultura de Fortaleza fez encaminhamentos práticos para com a Literatura, mas nenhum ainda foi cumprido, eis eles:

ENCAMINHAMENTOS:
- Elaboração do Plano Municipal de Literatura, Livro e Leitura; (iniciou de modo arbitrário só agora);
- Reuniões específicas (encontros temáticos) com as cadeias do segmento: MEDIAÇÃO, CRIAÇÃO, PRODUÇÃO, REGULAMENTAÇÃO;
- Elaborar edital premiando projetos de circulação e publicação; (4 anos sem editais das artes, quiçá um específico para publicação); 
- Apoiar espaços de leitura (edital de apoio às pequenas livrarias como ponto de leitura);
- Promover aproximação com a SME em projeto de formação de leitores;
- Fortalecer o Programa Agentes de Leitura (extinto);
- Aumentar o apoio às Feiras (Não acontece nenhuma, a única que havia, a Feira do livro e da rosa, não existe mais, só há um pouco de apoio à Feira do livro infantil)

O fato triste é que não tínhamos políticas para nossa linguagem, só pequenas ações isoladas, agora nem mais essas pequenas ações isoladas temos, é preocupante o estado de Abandono não só de todo Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de Fortaleza - é muito preocupante o estágio em que se encontra aquela que é a nossa BIBLIOTECA MUNICIPAL.

Talles Azigon
Poeta, Produtor Cultural, Contador de Histórias, Mediador de Leituras e Editor.

Um comentário:

CA Ribeiro Neto disse...

O Eufonia, que utilizou muito desse espaço, sabe bem como é esse descaso com o local. E lá só não está acabado totalmente e até fechado novamente porque os funcionários que lá estão são muito esforçados.