quinta-feira, 23 de julho de 2015

Termitidae habitat


por Fábio Rabelo Rodrigues 
E-mail: fabiorr87@hotmail.com 
Coluna: Linguagem para Amar e Ruminar



Pensando bem, eu já poderia até começar uma série, pois hoje fica um outro poema resgatado da gaveta. Desta vez, nem tão antigo, mas que conta também de um lugar de afeto tão antigo quanto possa inventar uma memória.


Canto do mundo


aqui, enumeração de coisas indecisas...
entumecidos corações fechando as portas de casa,
e os jornais não dizem de como cultivar amoras.
aqui, dizem, há outras coisas, urgentes, inadiáveis.
mas como quem perdesse o caminhar,
eles ou eu prostram-se às bancadas, às mesas de cozinha,
e o mundo ali é sempre outra coisa,
é aquilo com que acordamos no dia seguinte,
ou a terrível liberdade de estar só.
talvez espanto houvesse, mas eu não estava lá.
havia a terrível distração de não dar pelas coisas.
aqui, as leis, como assim lhas chamassem, eram eternas,
embora não existissem de fato.
aqui, havia o riso obscuro onde cabia a tua boca
e o que havia para mim não era mais do que a tua boca.
aqui, onde os olhos são pérolas
e o mar é sempre onde as ruas descem,
os homens têm os corações repartidos.
mas se não passasse desatento
saberia que ainda há cajueiros na cidade.
fortaleza não cabe nos braços nem na memória.
mas ao contrário das leis, fortaleza existia e existia o teu
corpo dobrando as ruas da cidade.
hoje, só há um poema que não vale o nome,
nem que eu pagasse o título que nele há de estar.


P.s.: Próximo mês, retorno aos perfis poéticos.