segunda-feira, 11 de abril de 2016

O negociante - Parte I

por Alex Costa - Facebook



Ainda antes mesmo de passar pela porta, queimou minhas narinas o forte odor de mijo e lama. O piso, molhado e com marcas de chinelos e sapatos, estava uma amálgama preta e fétida. Uma vergonha aquilo ser o banheiro de uma universidade, trágico. Prendendo a respiração, entrei no primeiro box, que se encontrava desocupado e com a porta entreaberta. Alguém, vestido de preto, olhava-se no espelho, e pareceu virar o rosto na minha direção antes que eu fechasse a porta. Mania minha, passei o ferrolho antes de colocar o pau para fora da cueca, nunca se sabe. Não quis olhar para baixo enquanto mijava, apenas li uma frase que estava escrita na descarga e dizia: “não importa o quanto balance: o último pingo sempre cai na cueca”. Sorri, dei duas rápidas repuxadas e balancei o pau, tentando burlar o sistema e evitar o derradeiro me melar a cueca.
Virei-me para a porta e coloquei a mão no ferrolho lisinho, quando percebi a sombra de pés na entrada do box. O coração acelerou e as mãos começaram a tremer quase que instantaneamente. Abri a porta vagarosamente, receoso, mas não havia ninguém me observando, apenas o mesmo rapaz loiro e belo, vestido de preto, que me olhava fixamente, mas sem sorrir. Dei-lhe um rápido aceno com a cabeça e ele tornou a olhar-se no espelho:
- Espero que não saia antes de apertar minha mão – sua voz parecia suave e tímida.
- Desculpe-me, mas me conhece de onde? -questionei.
- Não, não. Geralmente quem me conhece não se lembra de mim, prefere calar-se e dizer que nada aconteceu.

O clima parecia tenso, mas algo naquele cara me encantava absurdamente.
Ele deu alguns passos na minha direção, e, ao chegar à minha frente, olhou-me no fundo dos olhos e foi descendo a vista vagarosamente, até fixá-la com ferocidade no meu cacete, que agora estava duro e pulsante sem que eu houvesse percebido tal feito. Sem o mínimo receio, segurou forte minhas bolas entre seus dedos. Um nó se fez na minha garganta, e desceu rasgando e levando minhas forças, que àquele instante pareciam ter se esvaído do meu corpo, imóvel, deixando-me incapaz de esboçar reação alguma. Ele deu um breve sorriso furtivo, de canto de boca, soltou meu pau, duro feito pedra, e entrou no box do qual eu acabara de sair – deixou a porta entreaberta. Nervoso, olhei para a saída, que estava logo à minha esquerda,e novamente para a porta do box, decidi aventurar-me. Abri devagar a porta do box e lá estava ele, sentado no vaso sanitário, de braços cruzados e vinte e dois centímetros de cacete à minha espera, tranquei a porta.

[...]

Um comentário:

Paulo Henrique Passos disse...

Se o cara misterioso é um símbolo de alguma coisa, ainda não percebi do que é.
Esperar o resto da história