por:
Hermes de Sousa Veras
Ligeiramente sombrio. No mais, consideravelmente feliz e tropical.
Coluna: Etnoliteratura
“Tropeçavas
nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E,
sem dúvida, sobretudo o verso)
Caetano
Veloso - Livros
Intolerância I:
O resgatador de almas chutou o livro objeto de minha
atenção. A passageira ao meu lado, assustada, empurrou quem estava no caminho e
sentou-se em outro lugar. Ainda sem reação, por conta do inacreditável ato do
rapaz, continuei sendo expectador.
– Pra que tu tá lendo isso aí, se eu te ofereço a
palavra de Deus?
Intolerância II:
O homem, ao subir no ônibus, fez questão de se
diferenciar dos outros: não seria pedinte, não inventaria nenhuma história
triste e, principalmente, não faria nenhuma pregação. Revelou estar
desempregado e que simplesmente gostaria de vender alguns chocolates feitos
pela esposa, nenhuma ladainha seria dita, nenhuma falsa pregação.
Ao passar por mim, perguntou:
– Que livro é esse?
Mostrei a capa,o rapaz leu “Religião”. Era um livro
sobre gênero, simbolismo e religião, que abrigava artigos científicos sobre as
religiões na Amazônia. Ignorando todos esses detalhes, sentenciou:
– Eu não gostei desse livro, nem religião eu tenho.
Elas são responsáveis por todos os males desse mundo, não é?
Não respondi. Com seu ar superior, terminou de
vender seus chocolates racionalizados e desceu amargando a minha semana.
2 comentários:
Embora sabendo que essa coluna é de um solo híbrido entre realidade e imaginação, é difícil acreditar que algo dos fatos aconteceu...
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